Dia do consumidor: direitos ou deveres?

Em 15 de março, comemoramos o dia mundial do consumidor e os 17 anos do Código de Defesa do Consumidor. Em todos esses anos, falou-se muito em seus direitos. Claro! As grandes corporações ganham cada vez mais poder e as pessoas podem facilmente ser prejudicadas nessa relação de consumo. Mas que tal falarmos um pouco dos deveres do consumidor? Quais são as responsabilidades inerentes ao ato de consumir, desde itens básicos até os mais supérfluos?

A meu ver, o consumo está no cerne da questão da sustentabilidade. O que torna nossa situação atual insustentável é o fato de que o modelo de sociedade em que vivemos tem consumido mais do que o planeta pode nos oferecer. É possível calcular a área necessária para produzir tudo aquilo que consumimos e, ainda, absorver os resíduos desses processos, em um ano. Esse resultado recebe o nome de “pegada ecológica*” e os dados obtidos mundialmente têm sido bastante assustadores.

De acordo com o Instituto Akatu, o Brasil tem uma pegada ecológica média de 2,1 hectares por habitante por ano. Este número é superior à média mundial sugerida para que atingíssemos um padrão de consumo sustentável hoje, que seria de 1,8 (hectar/hab./ano), mas bastante próxima da média mundial per capita de 2,2.

Dessa forma, se não mudarmos nossos padrões de consumo rapidamente, estaremos exaurindo o planeta e sua capacidade de se regenerar frente às nossas ações no meio ambiente. Portanto, como consumidores, temos um papel ativo e essencial nesse cenário. O primeiro passo é assumir nossa própria responsabilidade. Parar de culpar apenas as empresas, o sistema, o governo. É importante lembrar que o que rege esse sistema é a lei de mercado, ou seja, o que a demanda exige. E esse poder está nas mãos do consumidor.

Após admitir que podemos, sim, assumir uma posição de agentes transformadores nessa sociedade, é preciso agir. Ao comprar qualquer produto, algumas perguntas básicas devem ser feitas. Eu realmente preciso disso? De que material isso é feito? Qual é o impacto ambiental e social da sua produção? De onde vem? Será que existe um item semelhante produzido aqui na região? Ou existe algo equivalente feito por comunidades carentes ou projetos sociais que carecem de recursos? Depois de utilizá-lo, como poderei descartá-lo? Resumindo, a compra desse produto é benéfica para mim e para os outros, sem prejudicar o planeta?

Mas responder a essas perguntas não é uma tarefa fácil. Informar-se da melhor forma possível é essencial. Atualmente, com a tecnologia da informação, temos fácil acesso a tudo o que precisamos saber, basta procurar.
Com isso em mente, que tal aproveitarmos este dia mundial do consumidor para buscar um novo olhar sobre a questão do consumo? E que no próximo ano possamos comemorar a diminuição da nossa pegada ecológica e ter a esperança de que ainda possamos viver em um mundo mais sustentável.

* O conceito de pegada ecológica foi desenvolvido pelos pesquisadores Mathis Wackernagel e Willian Hees e pode ser aplicado tanto para medir o impacto de um indivíduo de uma nação, ou até mesmo de toda a população humana sobre o planeta. Você pode descobrir qual é a sua pegada ecológica no endereço www. earthday.net/Footprint/index.asp.