Da cegueira coletiva à ignorância deliberada: um caminho perigoso e iminente

Nossas reflexões e escritos tem em sua essência e princípio não falar de pessoas e sim, de projetos políticos e de posicionamentos ideológicos e epistemológicos. Por isso, nossas reflexões não tem nenhuma conotação, apelo ou sentido político partidário. Elas retratam apenas questionamentos sobre algumas incoerências entre o que se ouve, acredita, vê e, as vezes, “engole” cotidianamente e o que se sente e observa na vida real;  com a convicção que sem uma participação consciente da sociedade, a “caneta”, ou seja, o poder, irá para quem sempre a usou em favor da tecnocracia, da especulação e da opressão dos mais fracos.

Inúmeras vezes na história, os interesses partidários (longe dos políticos) e de poder (muito mais distantes da maioria da população), somados à manipulação dos meios de comunicação, deixam à mercê uma imensa parcela da população que sequer consegue fazer uma leitura crítica do que realmente acontece. E, dentre tantas coisas vê-se o declínio da informação legítima e da liberdade de pensamento, em virtude da  enxurruda de conteúdos e inverdades disseminados nas redes sociais e até mesmo pela imprensa.

Mas, como fazer com que o povo tenha acesso a verdades e não a fatos montados e organizados de maneira a direcionar pensamentos e ações? Qual corrupção deve-se exigir que seja varrida do mapa? Aquela, que oficialmente a mídia difunde? Ou as especulações  que vão confundindo cada dia mais aqueles que trabalham?

Dessas últimas raramente se fala, porque talvez seja exatamente essa a estratégia: normalizá-la.

Enfim, o ataque sem dúvida não é o caminho, o distanciamento ideológico não é

possível, então o que fazer?

Pensar a respeito do mundo a que somos submetidos e buscar um entendimento ideológico parece uma boa opção.

Mas, pensar os poderes remete pensar muito além dos poderes locais, regionais, nacionais e internacionais. Exige pensar que a sociedade está empreendendo uma busca desenfreada e desmedida para atender as demandas do capital, que embora necessário, também é extremamente sedutor, convicente e impaciente.

Sim, é necessário pensar, refletir, discutir e manter os olhos cada vez mais abertos em toda a situação que está sendo, literalmente “plantada” na sociedade, para não viver o que chama Morin (2005) de “cegueira coletiva”.

Cegueira sobre a falta de ética, de valores, de justiça, sobre a corrupção econômica e/ou financeira, sobre a corrupção de valores, de moral, de respeito, sobre a impunidade, o descaso e o retrocesso.

Não é correto colaborar com a expansão desta cegueira coletiva com discursos passivos frente ao que vem acontecendo. Isso acarretaria em “ignorância deliberada”, ou seja, quando mesmo podendo e devendo conhecer determinadas circunstâncias tomamos deliberada ou conscientemente a decisão de manter-mo-nos na ignorância com relação a elas.

É tempo de se posicionar, de defender os projetos coletivos contra a desigualdade e a favor da inclusão de todo o ser humano para uma melhor qualidade de vida. Não é ético silenciar, não é correto atacar, o mais sensato é tentar buscar um caminho de diálogo, de reflexão, para que as ideias e o estado de constante agitação intelectual não sejam perdidos. E sempre é tempo de começar!

 

 

*Consultora em atividades relacionadas a Inovação e Empreendedorismo e CEO da Integrative – Desenvolvimento Organizacional e Profissional. Possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social e Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva na sociedade.