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Uma análise pertinente?

Acabam de ser publicadas as “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil” para os anos 2008 a 2010. Elas foram elaboradas e aprovadas pelos bispos de todo o Brasil reunidos na sua última assembléia geral em abril passado.

No capítulo primeiro, sob o título de “A Realidade que nos interpela”, onde o episcopado examina, em seus aspectos fundamentais, a realidade que interpela a todos os cristãos e a qual vai mais concretamente dirigida a missão deles, de modo expositivo descritivo, são mencionados elementos de cunho cultural, social, econômico, político, ético e religioso. Vale a pena dar uma atenção ao último, o religioso.

Começam os bispos a análise, afirmando que a mentalidade individualista, muito presente nos tempos hodiernos, alastrou-se também no campo religioso. Assim, o indivíduo, sempre mais, escolhe a sua religião num contexto pluralista. Mesmo aderindo a uma tradição ou a uma instituição religiosa, tende a escolher crenças, ritos e normas que lhe agradam subjetivamente ou se refugia numa adesão parcial, com fraco sentido de pertença institucional.

Ou, ainda, procura construir, numa espécie de mosaico, a sua religião com fragmentos de doutrinas e práticas de várias religiões. Mas, aumenta o número dos que recusam a adesão a qualquer instituição religiosa e consideram suas convicções uma “religião invisível”, com pouca ou nenhuma prática exterior. Cresce também a atração por práticas esotéricas, baseadas em “falsas doutrinas”, afetando a fé cristã.

Seguindo a análise, os bispos constatam também a tendência à inversão de sentido da experiência religiosa. Neste caso, a religião deixa de ser pensada e vivida como uma forma de reconhecimento, adoração e entrega ao Criador, obediência na fé, serviço a Deus e vivência comunitária. É vista numa ótica utilitarista, por oferecer “bem-estar” interior, terapia ou cura de males, sucesso na vida e nos negócios, como aparece na assim chamada “teologia da prosperidade”.

Nesta modalidade, a religião torna-se muito procurada, inclusive pela mídia. Esta acaba por banalizar a religião, reduzi-la a mais um espetáculo para entreter o público. Faz-se presente uma crescente tendência, em alguns setores da sociedade, em admitir a prática religiosa apenas na esfera privada, em base a uma sociedade laicista, criticando as manifestações da igreja em matéria de moral e presença na vida pública.

Há, igualmente, em novas expressões religiosas, uma tendência generalizada, inclusive por influência de certa “psicologia”, a afirmar sem mais a inocência dos indivíduos, de modo que ninguém deve sentir-se pecador ou culpado. Outros grupos religiosos atribuem toda a culpa aos demônios ou aos espíritos malignos.

Há, todavia, movimentos religiosos autônomos que, através do proselitismo, enganam com a chamada “teologia da prosperidade”. Conseqüentemente, ninguém se sente responsável por corrigir o que está errado na sociedade, na qual convivem, estranhamente, muita religiosidade e muita criminalidade, busca de Deus e injustiça.
É ou não uma análise pertinente que os bispos fazem da realidade religiosa atual?

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