Vivemos em um período de grandes indecisões onde ninguém pode prever seguramente o que será do futuro do planeta. Queimadas, destruição das florestas de forma irresponsável, e pior, como aqui no Brasil, onde empresas estrangeiras patenteiam nossos produtos e depois temos de comprar aquilo que foi produzido em nosso território. Desemprego em massa, miséria de muitos e riqueza de poucos. Bem, eu poderia ficar aqui digitando todo esse artigo somente falando de problemas da atualidade. Porém, não é este meu objetivo.
Todos estes fatores elucidados acima e muito mais que o caro leitor já deve estar nesse momento apontando agravaram-se logo após as “reformas neoliberais” introduzidas no Brasil, principalmente a partir da década de 90. Num período que ainda corresponde ao atual, vivemos num momento que encaro como regressivo (quando muitos intelectuais consideram este período o “progresso”).
Por que considero que vivemos o regresso? Podemos começar analisando a distância social e econômica de países como primeiro mundo (desenvolvidos) e países de terceiro mundo (em desenvolvimento ou subdesenvolvidos). Aliás, quanta maldade dar esperança a estes países encarados como “em desenvolvimento” quando sabemos que a riqueza obtida dos ditos de primeiro mundo vem justamente da espoliação dos países ditos em desenvolvimento e terceiro mundista.
Esta classificação nos dá uma idéia de que todos os países não só podem, mas como devem seguir os passos dos países de primeiro mundo. É como se estivéssemos numa pirâmide hierárquica onde todos deviam seguir o modelo estadunidense de desenvolvimento. Ora, isso é um erro histórico, pois em todos os lugares do mundo, cada país, cada região, teve um desenvolvimento próprio ao qual desembocaria necessariamente a modelos de desenvolvimento próprio (por isso, erroneamente dizemos que existem países atrasados, quando na realidade eles nunca impulsionaram suas forças produtivas visando o desenvolvimento do capitalismo, e quando o fizeram foi mais por pressão que por livre vontade).
Quanto ao surgimento dessa classificação, podemos analisar que no século 19, hoje os ditos países de primeiro mundo foram protagonistas daquilo que ficou conhecido como imperialismo. A África e a Ásia foram extremamente colonizadas, exploradas pelos países europeus. Aqui na América, quem exerceu esse papel de colonizador foram os EUA, através da Doutrina Monroe, onde dizia: “América para os americanos”, o que para eles significava América para os norte-americanos.
Que o diga Porto Rico, que até hoje pertence aos Estados Unidos, ou Cuba, que antes da Revolução de 1959 constitucionalmente os EUA interviam diretamente nas decisões do país (notem que estes ainda têm a “cara de pau” de chamar Fidel de ditador), ou quando nem mesmo os EUA respeitam decisões da ONU para não fazer guerras pelo mundo afora, ou então quando os EUA não aceitam a determinação da ONU em acabar com o vergonhoso bloqueio econômico a Cuba, ou então quando os norte-americanos financiaram todas as ditaduras militares das décadas de 60, 70 e 80 desde a América Central até aqui na América do Sul, inclusive o Brasil.
Isso nada mais é que um impedimento de que os povos do mundo inteiro tenham sua livre determinação e escolha. Na realidade, só pelo fato de se impor modelos de desenvolvimento, ao qual todos devem ou deveriam seguir, isso já é um impedimento à livre determinação dos povos. E ai daqueles que tentam desviar desse caminho pré-estabelecidos pelos países centrais para ver como serão tripudiados, que o diga Evo Morales, Hugo Chaves, entre outros.
Note então, caro leitor, que os países que hoje conhecemos como grandes potências são países que impuseram suas culturas e subordinaram os demais aos seus interesses, principalmente econômicos. Impuseram suas culturas e também seus valores. É justamente por isso que dizemos que existem países atrasados. Já parou para pensar que tais países são atrasados em relação ao o quê?
São atrasados em relação ao desenvolvimento capitalista que estes países impõem. Mais o leitor deve replicar: e a África? Bem, como afirmei antes, a África foi o continente que mais sofreu com a exploração imperialista, e até hoje sofre as conseqüências. O que me deixa profundamente entristecido é que existem pseudo-intelectuais que afirmam que a ajuda à África é um erro, pois inibe seu crescimento.
A nova divisão internacional do trabalho inibe o crescimento dos países ao ponto de superar estes históricos países desenvolvidos. Quem vende tecnologia (nessa nova divisão) jamais sairá do topo, e aos “em desenvolvimento”, (países industrializados) sua tendência é mais de se aproximar aos subdesenvolvidos (exportadores agrários) que aproximar dos desenvolvidos.
Existem outras análises que serão abordadas em outros artigos para compreendermos melhor a questão das reformas neoliberais que são de extrema importância para explicar a minha visão de regresso da atualidade.