O risco da curadoria de conteúdo por algoritmos

Foto: Divulgação/Notisul
Foto: Divulgação/Notisul

Calma, Calma, Calma… não estamos falando em obscurantismo e muito mesmo de algum tipo de ritual, mas sim, da curadoria dos “zilhões” de “bytes” de informações disponibilizados a cada instante na internet, sejam eles textos, áudios ou vídeos. O termo curador remete de forma geral a alguém que cuida, zela, protege, seja pessoas, patrimônios ou conteúdo.

Mas afinal, porque alguém deveria cuidar do conteúdo disponibilizado na internet?  As respostas são muitas e vão desde a seleção de fatos verdadeiros em relação aos maliciosos ou Fake News, até a seleção do que nós deveríamos consumir.  

A cada minuto, são gerados todos os tipos de informações em cifras assustadoras e exponenciais além de muito fragmentadas. No YouTube, por exemplo, é feito o upload de 300 a 500 horas de vídeos (envio para o servidor), enquanto são assistidos mais de 4,5 milhões de vídeos, já em sites construídos com WordPress, são criados mais de 1,4 mil posts, no Facebook são mais 3,3 milhões de postagens, e no Twitter mais 448 mil. Isso só para citar alguns dos serviços mais conhecidos. Com estes números já é possível perceber que está sendo impossível separarmos completamente o bom do ruim, e inevitavelmente acabaremos lendo alguma notícia / matéria errada ou tendenciosa e assistiremos algum vídeo “nada a ver”.

Com tantas opções de sites para consultas, de cursos online para estudar, de músicas para ouvir, etc., tudo a um clique de distância, nosso tempo tem sido cada vez mais disputado pelos criadores de conteúdos e pela nossa família também, e é claro, por nós mesmos. Assim, não podemos mais nos dar o luxo de ficar “navegando” pela internet sem um propósito bem definido.  
E é nesta hora que os “curadores digitais” se tornam muito importante, pois nos ajudarão a separar o “joio do trigo” e nos tornar mais produtivos na rede. Assim, podemos classifica-los em pelo menos dois grandes grupos:

1. Os curadores que trabalham separando os conteúdos verdadeiros dos falsos;  
2. Os curadores que são responsáveis pela seleção e ordenação de conteúdos fragmentados em sequencias lógicas.

No primeiro caso, esses já são empregados a muito tempo principalmente pelos grandes veículos de mídias, sejam eles tradicionais ou digitais, e mais recentemente também pelas plataformas de mídias sociais, sendo que no Brasil as mais conhecidas são o Facebook, Twitter e WhatsApp.  

Já os curadores “ordenadores de conteúdo” têm sua atuação iniciada mais recentemente, mas não menos importante, e hoje já é uma profissão e muitos “ganham a vida” sem a necessidade de produzir conteúdo novo, mas sim apenas disponibilizando ordenadamente os já existentes de forma que façam sentido e permitam um real aprendizado para quem os consumir.

Ou seja, como registrado acima tornou-se impossível para qualquer ser humano poder acompanhar tudo que acontece em sua área, e muito menos no mundo todo, até mesmo para os “curadores” humanos. E é neste ponto que novamente a tecnologia assume as “rédeas” do que iremos consumir.

Como ela faz isso? Por meio de algoritmos programados para reconhecer os hábitos dos internautas, fazendo “leituras” e análises de muitas variáveis, como: qual título chama mais atenção, que tipo de texto provoca mais interação e engajamento dos seus leitores, e ainda fazendo a checagem de informações e fontes citadas, e muito mais.

Porém, nada sai de graça, e se nós não pagamos por este serviço, é porque “o produto somos nós”. E aí que começa o grande risco, pois segundo pesquisa da Fundação Mozilla publicada em 2017, para 55% dos Brasileiros a internet se resumia ao Facebook. O mesmo Facebook que já se envolveu em polêmicas nas eleições Americanas e no Brexit Inglês, quebra de privacidade, entre outras, e como sabemos, os algoritmos do Facebook e do Instagram ordenam nossos “feeds” de forma a alcançar o máximo de engajamento, e consequentemente maior rentabilidade para as plataformas. 

Então, já temos algoritmos escrevendo reportagens, checando a veracidade, analisando o engajamento, e por fim, até selecionando-as e lendo-as para nós humanos, será que já não estamos entrando em um “tempo de domínio das máquinas” em busca de maior lucratividade para algumas poucas empresas? E talvez até mesmo começando nossa caminhada para a “singularidade”? Bom, mas este é assunto para uma outra série de textos.

Pais/educadores: Que tal discutir com seus filhos e alunos a importância de “consumir” notícias e conteúdos verdadeiros e de qualidade, e para tal ir buscar as verdadeiras fontes? E principalmente, qual o risco para uma sociedade inteira se as máquinas começaram a ditar o que devemos consumir?

Obs: A seleção de conteúdo por algoritmos já é real! Leia outros textos desta coluna em http://bit.ly/fernandopitt.