Será que precisamos de mais graduados?

A sociedade brasileira quando se fala em formação, historicamente tem como seu principal foco a busca por um diploma universitário. As bases para esta preferência são culturais e advêm desde o início da colonização, passando por todas as épocas chegando até os dias atuais. Inclusive, em vários momentos da história as políticas públicas fortaleceram esta condição, pois promoviam os cursos de Belas Artes, por exemplo, para a nobreza e elite, e os de “ofício” para os “pobres e marginalizados”. Assim, criou-se a falsa percepção que bastaria cursar uma faculdade para mudar de patamar na sociedade, e o Censo do Ensino Superior do ano de 2018, divulgado recentemente, vem mais uma vez confirmar esta tendência.

Os dados demonstram que ano após ano o número de matrículas no ensino superior brasileiro vem subindo, e consequentemente o número de formados também. Estamos falando de aproximadamente 8,45 milhões de estudantes universitários matriculados em alguma graduação, e 1,26 milhões de formandos a cada ano. Contudo, vivemos atualmente um grande paradoxo, pois ao mesmo tempo que temos quase 13 milhões de desempregados, muitos com “canudo na mão”, observamos uma grande quantidade de vagas não preenchidas por falta de profissionais capacitados, sendo a maioria delas em áreas tecnológicas. Em partes isso se explica quando analisamos os principais cursos preferidos pelos brasileiros, que são em primeiro lugar Direito, seguido por Pedagogia, Administração e Contabilidade, totalizando 2,63 milhões estudantes matriculados nestes quatro cursos, com aproximadamente 405 mil formados anualmente.  Áreas estas, muito impactadas pelo avanço tecnológico e consequentemente com a eliminação de vagas devido a adoção de algoritmos e inteligência artificial, entre outras tecnologias. Ao mesmo tempo, cursos de cunho tecnológicos são os menos procurados.

Outra modalidade que forma profissionais com bases tecnológicas, que são os Cursos Técnicos Profissionalizantes, também têm uma demanda muito menor. Atualmente conta com aproximadamente 1,8 milhões de matrículas apenas.

Além de estamos formando cada vez mais profissionais com “canudo” do ensino superior em áreas que o mercado de trabalho tem substituído por algoritmos, temos observado a oferta cada vez maior de cursos à distância, novamente nas áreas acima citadas.
Então te convido a conhecer alguns dos números divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) por meio da Sinopse Estatística da Educação Superior referente ao ano de 2018.

Um dos principais dados divulgados foi a quantidade de vagas ofertadas: 13,529 milhões, onde estão incluídas as novas, especiais e remanescentes, presenciais e a distância, da rede pública e privada.  Deste total, 6,358 milhões foram na modalidade presencial e 7,170 milhões EaD, o primeiro ano que o total de vagas a distância superou as ofertadas na modalidade presencial.
Deste montante, como já mencionamos, foram efetivadas 8,450 milhões de matrículas, destas, 6,394 milhões presenciais e 2,056 milhões a distância, sendo que foram 2,077 milhões no regime público e 6,373 milhões no regime privado.

O total de instituições e quantidade de cursos também foram outros dados divulgados. Em 2018 foram ofertados 37,962 mil cursos (10,526 mil na rede pública e 27,436 mil na rede privada), um crescimento de 49,7% se comparado com o ano de 2008. Já o número de instituições de ensino superior que ofertam cursos de graduação cresceu 12,7% no mesmo período, existindo atualmente 2.537 (Universidades, Centros Universitários, Faculdades, CEFETs e IFs).

Já em relação ao número de docentes, foram apontados no Censo um total de 384.474, destes 173.868 atuando na rede pública e 210.606 na rede privada. Durante o período de 2008 a 2018 a ampliação na rede pública foi de 55,4% contra 0,5% na rede privada.

Outro destaque é para os cursos com maior número de matrículas, sendo que no ranking geral em primeiro lugar fica o curso de Direito com 863.101 (10,4%), Pedagogia com 747.890 (9%) e Administração com 654.843 (7,9%). Se considerarmos somente Matrículas de Graduação em Licenciaturas, as matrículas em Pedagogia correspondem a 45,9%, e Educação Física formação de professor que vem em segundo lugar com 168.153 matrículas, o que corresponde a apenas 10,3%.

Há ainda muitos dados a serem explorados e analisados no Censo, contudo, com estes já temos condições de conhecer um pouco o atual cenário de Educação do Ensino Superior Brasileiro.
Se você está na dúvida em relação a qual curso superior escolher, uma sugestão é primeiro fazer um Curso Técnico, que é mais acessível, mais rápido e promove uma maior inclusão no mercado de trabalho, para só depois buscar um curso de graduação. Um diploma de graduação é muito importante, mas de nada vale se for para deixar guardado em uma gaveta.

Pais/Educadores:
Que tal ajudar seus filhos e alunos a construir um itinerário formativo que os dê condições de competir neste cenário que veremos cada vez a oferta de menos emprego, e mais plataformas de trabalho? E partindo da certeza que o estudo e o aprendizado deverão ser constantes durante toda a vida, que tal discutir ainda quais são as outras alternativas de desenvolvimento que vão além de uma sala de aula?
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