Ódio digital

Dentre as competências para o profissional do Século 21 apontadas pelo Fórum Econômico Mundial, há uma em especial que se refere à “Inteligência Emocional”, que em resumo é saber reconhecer seus próprios sentimentos, além os dos outros, e conseguir lidar com eles. Contudo, em tempos que internet com direito a “tretar” no Microblog “Twitter” a qualquer momento, parece que para muitos a “razão” dá lugar as “emoções viscerais”, e o ódio acaba por aflorar na rede.
O que presenciamos não é nada de diferente do que a humanidade sempre viveu, como por exemplo o “bullying”, acontece que como já tratamos em outros textos, a rede mundial de computadores está servindo como um meio para difundir o “ódio digital” numa velocidade nunca antes vivenciada. Ou seja, intrigas, ofensas e provocações sempre existiram, só que agora encontraram um terreno fértil para uma maior propagação.

Mas porque pessoas calmas e educadas no mundo “real” se tornam tão agressivas e por vezes assumem até mesmo comportamento completamente reprováveis quando estão atrás de uma tela? Essa é uma resposta difícil de esboçar, mas vou tentar descrever algumas das condições para que isso aconteça.

Um dos fatores que pode contribuir com esta situação é o fato de se sentirem “seguras” atrás da tela dos seus computadores ou SmartPhones, como se se tornassem invisíveis e protegidas por estarem distantes. Associado a isto, temos o fato de que hoje vivemos um tempo com uma geração cheia de “mimimi” e “não me toque”, como se houvesse uma hipersensibilidade para cada frase dita ou não dita, para cada olhar deferido ou desviado, para cada concordância ou discordância seja de uma pessoa conhecida ou até mesmo desconhecida.

Outra facilidade que a internet nos proporciona é o encontro de outras pessoas ou “tribos” que pensam similarmente a nós ou de forma contrária, o que também proporciona que as “tretas” arranjadas a partir de um comentário de alguém que não gostamos ou não concordamos, ganhem uma proporção muito grande em questão de minutos, pois simplesmente muitos irão concordar com nossa posição “contrária” enquanto outros tantos irão “discordar” da nossa posição. Em resumo, em minutos uma guerra “virtual” estará em andamento na internet. E o que é pior, muitas vezes tudo começa porque o leitor não conseguir “interpretar o texto” corretamente, seja por deficiências em linguagem mesmo, ou por que havia um sarcasmo na fala original de forma implícita. 

Outro cenário de briga certa são as publicações de políticos nas mídias sociais. Em questão de instantes estarão lá seus apoiadores, e ao mesmo tempo, os de correntes políticas contrária. Mais uma briga se inicia.

Ah, antes que vocês decidam “tretar” comigo por não conhecerem esta palavra, deixem-me dar uma breve explicação do que ela significa: Tretar – é uma ação ardilosa feita com o propósito de enganar, de iludir, mas na gíria popular tem o significado de criar uma situação complicada, uma briga ou discussão muito agressiva.

Isto te assusta? Pois bem, tenho uma triste notícia para você.  Qualquer “coisa” que você fizer e disser sempre haverá os “haters”, que vivem para postar comentários de ódio ou crítica no mundo digital.

Recomendo o episódio 673 – Haters gonna hate do PodCast NerdCast – com 1h19, de 17 de maio de 2019, para você se aprofundar no assunto.

Pais/educadores: Que tal discutir com seus filhos e alunos a importância do controle e inteligência emocional, bem como fazer eles identificarem situações que uma simples palavra mal interpretada deu início a uma “treta digital”? Discuta com eles também os riscos dessas brigas digitais chegarem ao mundo real, e quais as consequências disso, além de fazê-los entender que não existe anonimato completo na rede e que tudo que dissermos e fizermos na internet hoje, ficará gravado para sempre nos chamados rastros digitais.

Discorde, concorde, mas pense muito bem antes de partir para a agressão digital.
Leia outros textos desta coluna em http://bit.ly/fernandopitt.