Curso técnico ou faculdade?

Na última coluna escrevemos sobre o retorno às aulas dos milhares de alunos das redes pública e privada na educação fundamental e no ensino médio, onde foram deixadas algumas dicas para que os pais possam acompanhar a vida escolar de seus filhos durante este ano letivo que iniciou (veja em bit.ly/fernandopitt).

Agora é a vez de centenas de alunos universitários retornarem às aulas ou iniciar um novo curso superior e outros tantos começam suas formações profissionais por meio de cursos técnicos. E você o que anda fazendo? “[…] dando milho aos pombos […]”? Opa, digo, está aí sem saber o que fazer? Brincadeiras à parte, o propósito deste “trocadilho” é para lembrar que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e que a formação e principalmente a qualificação profissional passam a ser imprescindíveis na construção de uma carreira sólida e duradoura. Então, cada ano perdido vai lhe tirando a sua competitividade profissional.

Neste contexto, é muito comum encontrar, nos egressos do ensino médio, uma dúvida frequente em relação a qual carreira seguir, e para tal, qual curso ingressar. Na atual conjuntura econômica e das novas relações do trabalho em nível mundial, não é possível afirmar que uma modalidade ou outra de ensino seja a melhor, por isso recorrentemente tenho escrito e defendido que a escolha inicialmente deva recair sobre um curso técnico e, em seguida, continuar o seu itinerário formativo com o ingresso em um curso superior.

No Brasil, bem como em outros países em desenvolvimento, há certo preconceito centenário em relação a fazer curso técnico, pois vivemos o que alguns definem como sendo a “síndrome do bacharelismo”. Isso nada mais é do que apenas visualizar a faculdade como uma opção e não considerar todas as outras possibilidades existentes. Os números mostram que enquanto temos mais de 8,3 milhões de matrículas anuais em cursos superiores, não chegamos nem mesmo a 1,8 milhão de matrículas em cursos técnicos. E se formos considerar ainda os jovens que cursam concomitantemente uma formação profissional com o ensino médio, não chegamos nem a 10% destes, enquanto em muitos países europeus a média é superior a 50% neste público.
Este comportamento gera algumas consequências como:

• Nem todos têm condições financeiras para acessar um curso superior no início de sua carreira profissional, e por não possuir uma formação específica também não conseguem bons empregos que lhe proporcionarão uma carreira de sucesso, inclusive no campo financeiro e, assim, este ciclo vicioso se perpetua por toda sua vida profissional;

• Muitos estudantes, por não terem clareza em relação às áreas que desejam atuar, acabam escolhendo sua graduação por conveniência, por achar que gostará da profissão, ou simplesmente por ser a qual consegue pagar. Este público, na sua maioria, até chega a se formar, mas normalmente não trabalharão na área e dificilmente construirão uma carreira de sucesso nesta;

• Outros, por sua vez, começam uma graduação “qualquer”, após um tempo descobrem que “não se identificaram com o curso” e acabam desistindo do mesmo no meio do caminho. Além do investimento financeiro envolvido, há outra grande perda que não tem retorno: o tempo investido;
• Tem-se outro grupo ainda que consegue conciliar suas preferências e aptidões com o curso universitário, porém, devido a formações incompletas e insuficientes durante os ensinos fundamental e médio terão muita dificuldade de acompanhar o ritmo desta formação e, por consequência, são fortes candidatos à evasão, mesmo estudando o que gostam. Os números mostram que em 2014, por exemplo, em alguns cursos a taxa de evasão superou os 50% dos admitidos naquele ano.

Por fim, quero deixar bem claro que não sou contra o ingresso direto em uma faculdade, mas sim, apenas trazer para reflexão que além desta modalidade existem outras opções que devem ser consideradas também, como um curso técnico ou até mesmo de curta duração.

O que não pode, é deixar de ser um “aprendedor”.

Acesso e Duração
O requisito de acesso ao um curso técnico é que o aluno esteja pelo menos no 2º ano do ensino médio ou já ter concluído o mesmo, já para um curso superior é necessário o ensino médio completo. Quanto à qualidade dos cursos, em ambos os casos formam profissionais competentes para suas áreas, contudo, no primeiro caso, por ser de menor duração (em média 1,5 a dois anos) são mais focados e direcionados para uma área específica, enquanto os cursos superiores mais longos (de três a cinco anos) formam profissionais mais generalistas e com uma visão mais ampla e transversal sobre várias áreas.

Leia outros textos desta coluna em: http://bit.ly/fernandopitt.