Aprovada a nova Base Nacional Comum Curricular

Na última semana, mais um passo importante para o incremento na qualidade da educação brasileira foi dado, pelo menos na teoria, que foi a aprovação, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio. O BNCC fornecerá a orientação para o currículo de todas as escolas públicas e particulares do país, e como tem caráter normativo, ou seja, não precisará de aprovação do Congresso nem de sanção presidencial, somente da homologação pelo Ministro da Educação, e deve entrar em vigor em todos os Estados até 2022.

É bem verdade que desde 2015, quando a primeira versão da BNCC foi apresentada, até o momento da aprovação da versão final no último dia 4, houve muitas manifestações contrárias e a favor, e, com certeza, se a discussão perdurasse por mais tempo não haveria um consenso.
Já abordamos este tema em uma coluna anterior, porém, dada a importância do assunto se faz necessário trazê-lo novamente para que todos tenham ciência do que irá mudar com esta aprovação, e como isso poderá impactar positivamente na formação de nossos jovens no Ensino Médio. Antes de mais nada é pertinente relembrar que até a construção da BNCC, o Brasil não possuía um currículo nacional obrigatório, ou seja, considerando que as únicas disciplinas obrigatórias no ensino médio eram português, matemática, artes, educação física, filosofia e sociologia, cada Estado poderia trabalhar com suas cargas horárias e distribuição de forma diferentes e, assim, os alunos teriam conteúdos que não necessariamente fossem os mesmos.
Uma mudança significativa foi que entre as 13 disciplinas, hoje constantes na matriz curricular do Ensino Médio, apenas o português e a matemática se mantiveram como disciplinas isoladas e ofertadas nos três anos do ensino médio com carga horária obrigatória, as demais passam a ser organizadas como áreas do conhecimento, conforme segue:

• Linguagens e suas Tecnologias (Arte, Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa)
• Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Física e Química)
• Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia)

A reforma do Ensino Médio aprovada em 2017 prevê que 60% do Novo Ensino Médio seja de conteúdos previstos no BNCC e os outros 40% do currículo deve ser ofertado em uma das cinco áreas dos itinerários formativos.

Em um tempo em que as transformações tecnológicas ocorrem em uma velocidade como nunca antes vista, e que na maioria dos Estados o Ensino Médio ainda vem sendo ofertado da forma tradicional há décadas, pelo menos na rede pública, é de se entender por que já não atrai a atenção dos nossos jovens, e que apresenta uma alta taxa de evasão neste ciclo de formação.

Esta mudança certamente não será fácil, pois precisaremos, acima de tudo, “re-formar” nossos professores que há anos trabalham nas suas disciplinas isoladas e nem sempre fazem conexões com as outras áreas do conhecimento e o mundo do trabalho. E observem que não estamos falando sobre a qualidade de ensino destes docentes, mas sim como foram formados e orientados para trabalhar até hoje. E talvez a grande mudança na foram de trabalhar os conteúdos será exatamente em como os mesmos serão integrados, como, por exemplo, fazer a “resolução de um problema” ambiental utilizando os conhecimentos de física, química e biologia de forma integrada, e não simplesmente equações isoladas apenas para “aplicar as fórmulas”.

Este é mais um daqueles assuntos que renderiam páginas e mais páginas de discussão, mas o que procurei passar aqui é o grande impacto positivo que poderá ter na sociedade em longo prazo, desde que todos passem a realmente fazer esta integração acontecer.

Itinerários formativos
As redes de ensino terão autonomia para definir qual ou quais itinerários irão ofertar em cada escola. Os itinerários formativos são o conjunto de várias estratégias de estudos, com a oferta de disciplinas, estudos dirigidos, projetos, situações de aprendizagem, oficinas, dentre outros, em que os estudantes poderão escolher no Ensino Médio e visam aprofundar os estudos em uma área específica. Com isso, um aluno que pretende fazer um curso de engenharia, por exemplo, poderá aprofundar-se em matemática e suas tecnologias, ou até mesmo optar por um em um curso técnico correlato com sua próxima formação.
• Linguagens e suas tecnologias
• Matemática e suas tecnologias
• Ciências da natureza e suas tecnologias
• Ciências humanas e sociais aplicadas
• Formação técnica e profissional

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