Presídio Regional de Tubarão: Deap não reconhece facção

Amanda Menger
Tubarão

Antes de transferir 12 detentos do Presídio Regional de Tubarão para o Santa Augusta, em Criciúma, ontem à tarde, os agentes prisionais fizeram uma nova revista nas celas. Desta vez, foi encontrada uma carta de um preso que pode ter relação com o Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Há algumas semanas, foi encontrado um ‘estatuto’ do PGC dentro da Penitenciária Sul, em Criciúma. O ‘documento’ trata das diretrizes de uma facção criminosa que estaria em formação no estado.

A carta encontrada no presídio de Tubarão trata da organização da galeria para a realização de novas fugas, além de lamentar a tentativa frustrada de quarta-feira. No texto, o detento diz que o objetivo é a liberdade, que não podem deixar de tentar abalar a administração do presídio. “A carta que encontramos deve ter passado por toda a galeria e tem claramente a intenção de retaliar o trabalho que fazemos. Preso não tem que escolher a administração e se reclamam é porque coibimos as coisas erradas”, afirma o diretor do presídio, Ricardo Dias Welausen. O suspeito de ser o autor da carta estava entre os transferidos.

O diretor geral do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), Hudson Queiroz, diz conhecer este tal ‘estatuto’. “Mas não reconhecemos nenhuma facção criminosa em Santa Catarina. Se dermos muita ênfase em algo que não existe, é bem possível que passe a existir. Temos que ter cautela. É fato que os presos tentam organizar-se dentro do sistema carcerário, assim como nós aqui fora nos organizamos. Nós trabalhamos para coibir isso”, garante Hudson.

Doze presos são transferidos

A justiça concedeu a transferência de 12 presos do Presídio Regional de Tubarão para o Santa Augusta, em Criciúma. A mudança ocorreu ontem à tarde e deve-se à tentativa de fuga de quarta-feira. Os presos serraram a grade de proteção do pátio e puxaram as telas. O caso ocorreu no fim da tarde, pouco antes dos agentes prisionais fazerem a conferência dos detentos e fecharem as celas.
“Os 12 foram transferidos devido ao comportamento. Notamos algumas questões, tivemos outras informações de fora e achamos por bem que eles fossem para outro presídio”, explica o diretor do presídio, Ricardo Dias Welausen.

Após a tentativa de fuga, a grade foi consertada e os presos colocados no pátio. Em uma operação ‘pente fino’, foram encontrados dois celulares, dois carregadores, um torrão de maconha e ‘espetos’ artesanais. “Depois que voltaram para a cela, eu disse que ficariam sem a visita do fim de semana e não poderiam ir para o pátio nos próximos dias. Aí eles gritaram, chutaram a porta das celas e ofenderam os agentes prisionais. Hoje (ontem) pela manhã, quando os agentes foram entregar o café da manhã, eles negaram-se a comer e voltaram a xingar os agentes”, conta Ricardo.
À tarde, antes da transferência, os presos voltaram ao pátio e uma nova revista foi feita. “Algumas regalias foram cortadas. A visita do fim de semana continua suspensa, o pátio também. Retiramos todos os ventiladores, rádios e televisores das celas por tempo indeterminado”, anuncia o diretor do presídio.

Algumas determinações do PGC

• “O PGC é uma organização séria, agindo sempre discretamente, não aceitamos os chamados comandos (comando de cadeia). E nada que seja incorreto no crime”.
• “O PGC é uma organização que jamais existiu no estado de Santa Catarina, o qual foi fundado no dia 3/3/2003 no intuito de coibir atitudes erradas, inaceitáveis. Principalmente visando o adianto (sic) e muitas melhorias no crime neste estado o qual fazem parte dessa ladrões e traficantes em fim, não existi (sic) necessidades de um artigo específico. Não aceitamos estupradores (213). Só importa ao PGC sua conduta no crime limpo, ou seja… seu bom proceder”.
• “Como toda organização, nós temos um conselho, ou seja, um comissão por (20) integrantes, vale salientar que os mesmos serão escolhidos e votados pela maioria”.
• “Obrigações: Após sair da cadeira, dentro de um prazo de (6) meses tem que ser feita uma contribuição de mil dólares para fins de investimento em armamento entre outras necessidades do grupo”.

• “Em caso de não haver convocação para resgate ou missões no intervalo de (6) em (6) meses, tem por obrigação financiar um advogado para por em liberdade um irmão que realmente esteja no direito.
• “Os irmãos que integrarem o plano B.V. têm que pagar dismo (sic) de (10%) em cada ação efetuada pelos assaltantes, assim também ocorre com os traficantes contribuindo com (10%) do seu lucro mensal…”.
• “Objetivo: Colocar o maior número de irmãos em liberdade, sempre fortalecendo o crime correto”.

Lotação dificulta trabalho

Com a transferência dos 12 presos ontem e a fuga de seis mulheres (nenhuma havia sido recapturada até ontem) na madrugada de segunda-feira, o Presídio Regional de Tubarão ainda tem 235 presos. O prédio construído para abrigar uma cadeia pública tem estrutura para 60 detentos. O diretor da instituição, Ricardo Dias Welausen, reconhece as dificuldades de trabalhar com tantos presos.
“Quanto mais lotado, mais difícil. Ontem (quarta-feira), os agentes prisionais foram rápidos, porque os presos da galeria geral estavam no pátio. É a maior ala do presídio, com 110 detentos”, observa o diretor.

A fuga realizada pelas mulheres seguiu o mesmo ‘padrão’ de uma tentativa realizada por cinco presos da ala do seguro há um mês. Eles escavaram a parede. As mulheres tiveram êxito porque as paredes da ala feminina eram apenas de tijolos – no seguro há uma camada de dez centímetros de concreto – e há um terreno baldio ao lado do presídio, o que facilitou a fuga. Os agentes prisionais só perceberam a fuga às 6h30min, quando foi feita a conferência dos presos.
“Veremos a possibilidade de remover mais alguns presos. O certo é que se estão tentando fugir é porque o trabalho da administração tem sido efetivo e é isso que queremos”, declara o diretor geral do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), Hudson Queiroz.