Morte de bebê na região choca moradores

Delegado detalha depoimento de padrasto e afirma ter chorado durante o flagrante. Foi um dos piores crimes já registrados na região.

Mirna Graciela
Braço do Norte

Foram 17 horas de depoimentos ininterruptas do padrasto, amigos e familiares da bebê Mariah Della Giustina Gonçalves, de somente 10 meses, de Braço do Norte, assassinada no fim da manhã de sábado de Carnaval, na Capital do Vale. A informação é do delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Tubarão, William Cezar Sales, que estava de plantão no dia do crime e elucidou o homicídio com sua equipe.

Ele relata como foram os procedimentos passo a passo desde que sua equipe assumiu o caso. Conforme Sales, assim que foi constatado não ter sido ‘acidental’, iniciaram-se as diligências para localizar os supostos autores. “Dirigimo-nos até Braço do Norte, onde ocorria o velório, no sábado à tarde. Até então não sabíamos quais pessoas estavam envolvidas de fato. Identificamo-nos e prendemos o padrasto e a mãe da criança. Tínhamos que tomar uma atitude para evitar uma possível fuga, por exemplo”, explica o delegado.

Os dois foram conduzidos à delegacia de Braço do Norte, onde ficaram detidos, e começou uma jornada exaustiva de depoimentos. Cerca de 15 pessoas, entre médicos, enfermeiros, parentes, amigos e conhecidos, foram interrogados até domingo pela manhã.

“Deixamos os dois por último. Até este momento, diante de tudo que ouvimos de todas as pessoas, já havia reunido elementos suficientes para prendê-lo antes do seu interrogatório”, revela Sales.

A mãe foi liberada assim que contou sua versão, pois, conforme o delegado, ela realmente estava fora de qualquer suspeita. Já o depoimento do padrasto durou quase três horas. Ele estava acompanhado de uma advogada em todo o processo.

“O que ele falou preencheu duas folhas e meia. Ao fim, olhei para ele e disse: ‘Tudo que tenho aqui já te condena, não preciso da tua confissão, vou te fazer uma pergunta: Como tu mataste essa criança? Por quê?”, indagou o delegado.

A confissão do acusado
O delegado revelou que durante o interrogatório do padrasto, ele mostrou as fotos da menina. E que após esta intimação e questionamento, o jovem pediu que ficassem na sala somente sua advogada e o delegado. Então, o escrivão e um agente saíram a pedido de Sales.
“Num primeiro instante, ele afirmou ter sufocado a criança com um travesseiro. Estava nos testando para saber o que realmente sabíamos. Então, falei como teria sido a ação criminosa e ele arregalou os olhos”, contou o delegado.
Foi quando o jovem admitiu e contou em detalhes. Segundo Sales, o padrasto disse que estava cheio de problemas, estressado, viajava muito, chegava em casa cansado, não havia dormido a noite inteira porque a bebê chorava muito. Naquele dia teve que levantar cedo pra cuidar da criança. A esposa havia deixado a mamadeira pronta.
“Então, ele colocou a menina sentada na sala, ela começou a resmungar e chorar. Em um momento de fúria, ele a asfixiou com as mãos”, conta Sales, com a voz embargada.

A atuação do delegado e equipe
William Cezar Sales atua na área há mais de 20 anos e está em Tubarão desde a semana passada. Ele veio de São José dos Cedros, no Oeste catarinense.
“Quero agradecer à equipe dos policiais que participaram para que o caso fosse elucidado. São investigadores de Braço do Norte e da DIC. Sem eles, não chegaríamos a este resultado. Também ao hospital, os médicos foram muito inteligentes ao manterem a história do padrasto, do iogurte, e comunicar o IML que não havia sido bem assim”, declarou o delegado.
A primeira versão sobre a possível causa da morte apresentada pelo padrasto foi por engasgamento por ingestão de iogurte. O Portal Notisul trouxe o caso em primeira mão no sábado e a prisão do acusado também, no domingo.

Pena do acusado: autuado por homicídio duplamente qualificado
O auto de prisão em flagrante foi encaminhado para o judiciário. Agora, caberá à justiça definir os rumos da condenação. Ele foi autuado por homicídio duplamente qualificado, com uma pena que pode variar de 12 a 30 anos de prisão. Como o caso teve repercussão nacional em poucas horas, um júri popular poderá ser marcado ainda para este ano, provavelmente para o segundo semestre. A pressão de moradores de Braço do norte e da região por justiça já começou no dia seguinte à prisão do padrasto. As investigações ainda não estão concluídas, e a Polícia Civil ainda avalia se houve a ajuda de terceiros para levar Mariah ao hospital ou se havia mais alguém na casa no momento da morte da bebê.

“A criança lutou para respirar”
O delegado afirma que chorou algumas vezes durante o flagrante. Fiquei sensibilizado e emocionado com a criança. “Ela apresentava marcas chamadas petéquias, são pontos vermelhos originados da força que fez para tentar respirar”, lamenta. Segundo Sales, este foi um caso que lhe causou grande comoção porque mostra, infelizmente, até onde o ser humano pode chegar.