Facção criminosa: Estatuto do PGC é avaliado por juiz

Amanda Menger
Tubarão

Há pouco mais de uma semana, o juiz da Vara Criminal de Criciúma, Rubens Salfer, tornou público o chamado ‘estatuto’ do Primeiro Grupo Catarinense (PGC). O documento, um manuscrito de nove páginas, foi localizado dentro da Penitenciária Sul, em Criciúma, e encaminhado à justiça pelo diretor da instituição, Adércio José Velter.

“Nós encontramos aqui um documento que se refere ao PGC. Encaminhamos ao juiz para que ele tome as providências cabíveis. Mas nós não consideramos que haja uma facção criminosa. Fazemos um acompanhamento para que estas organizações não se instalem dentro das unidades prisionais”, afirma Adércio.

O assunto voltou à tona quinta-feira, com uma carta encontrada em uma das celas do Presídio Regional de Tubarão. Suspeita-se que o texto, localizado por agentes prisionais, seja de um conselheiro da facção, uma vez que alguns trechos são semelhantes aos encontrados no ‘estatuto’. Um deles, por exemplo, diz que a meta é ‘a liberdade dos irmãos’, e este é um dos objetivos apregoados pelo PGC.

“Não posso falar sobre este caso específico. Mas penso da mesma forma do diretor geral do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), Hudson Queiroz, os presos tentam organizar-se, como nós fazemos na vida social. O que ocorre muitas vezes é a rivalidade entre grupos criminosos, porque é comum os integrantes serem presos e encontrarem-se na mesma unidade, aí tentam fazer na cadeia o que faziam fora”, avalia Adércio.

O lado ‘certo da vida errada’

Os ‘futuros integrantes’ do Primeiro Grupo Catarinenses (PGC) identificam-se como favoráveis ao que chamam de ‘crime correto’, ou seja, tráfico de drogas e assaltos. O livro Abusado, o dono do Morro Santa Marta, de Caco Barcellos, conta a história do traficante Marcinho VP, que falava com frequência que o tráfico é o “lado certo da vida errada”. A frase que impressiona e choca é comum, afirma o diretor da Penitenciária Sul, em Criciúma, Adércio José Velter.

“Essa é uma gíria que os detentos usam dentro das unidades prisionais, porque pode ser contraditório, mas há uma espécie de código de honra entre os criminosos. É por isso que eles não aceitam o estupro. Só o que chamam de crime perfeito, como o tráfico, o assalto, o homicídio”, relata Adércio.

A expressão chamou a atenção do presidente do Conselho Municipal de Segurança de Tubarão, vereador Maurício da Silva (PMDB). “Eu desconhecia esta frase. Mas isso é preocupante, porque não tem como o crime ser mais ou menos correto. Se infringiu as leis, é crime. A única coisa que se defende é que os presos tenham um tratamento digno, que não fiquem empilhados. Hoje, os presídios não ressocializam ninguém, eles saem piores do que entraram”, avalia Maurício.

Para o presidente do conselho, considerar o crime como algo correto deve-se também às imagens negativas. “As famílias estão desestruturadas, a sociedade não se importa com as crianças, e aí abre-se um espaço para o tráfico. Para muitas crianças e adolescentes, o exemplo que eles têm de sucesso é o traficante. Temos que trabalhar para evitar que eles cheguem ao mundo do crime”, propõe Maurício.