Comunidade Mbya Guarani, no RS, sofre atentado a tiros

Porto Alegre (RS)

A comunidade Mbya Guarani da Ponta do Arado, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, foi atacada a tiros na madrugada desta sexta-feira (11), por homens encapuzados, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Os tiros não atingiram ninguém. Os agressores, no entanto, ameaçaram os Guarani de que, se não deixarem a área até o próximo domingo (13), todos serão mortos. O boletim de ocorrência foi registrado na delegacia de polícia do bairro Belém Novo. O atentado também foi denunciado ao Ministério Público Federal (MPF).

“Chegaram dois homens armados, encapuzados, dando tiros em cima do nosso barraco. As crianças ficaram todas assustadas, chorando. Eles falaram que vão esperar até domingo. Se a gente não sair até domingo, eles disseram que vão matar todo mundo, que não vai sobrar nenhuma pessoa. Foram muitos tiros”, relata o cacique Timóteo Karai Mirim. “Queremos que o Ministério Público e a Funai nos acompanhem porque estamos longe da cidade, isolados. Essa terra aqui é um lugar nosso antigo, é muito importante para nós. Por isso voltamos para cá e queremos viver aqui”.

A retomada da Ponta do Arado ocorreu em junho de 2018. Está localizada no bairro Belém Novo, na zona sul de Porto Alegre, nas margens do rio Guaíba. Trata-se de região de 426 hectares, de preservação ambiental e é um importante sítio arqueológico do povo Guarani. A área é alvo de forte especulação imobiliária, e os indígenas já receberam outras ameaças de seguranças da empresa que pretende construir um grande condomínio no local.

Os Mbya Guarani da Ponta do Arado tem sofrido com ataques e ameaças constantes. Naquele mesmo mês, homens armados, dizendo-se policiais, ameaçaram os indígenas e afirmaram que se não deixassem o local seriam removidos à força.

Na quarta-feira (9), o cacique conta que uma pessoa que se apresentou como gerente do empreendimento foi à retomada e se colocou à disposição para ajudar os indígenas a “fazer a mudança” da comunidade para a aldeia Cantagalo, localizada em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. Acompanhado de outras duas pessoas, o suposto gerente afirmou aos Mbya que eles não tinham condições de ficar ali e acabariam tendo que sair de qualquer jeito.

Na noite seguinte, de quinta-feira, 10, os indígenas relatam que seis seguranças cercavam os seus barracos, falando muito alto. Por volta das 22 horas, eles se retiraram para o meio da fazenda que circunda a retomada, e os indígenas ouviram muitos disparos. Algumas horas depois, às 3 horas, iniciou o ataque dos homens encapuzados contra a comunidade, que focaram os barracos com lanternas, dispararam e gritaram ameaças contra os indígenas.

Na avaliação do coordenador do Cimi regional Sul, Roberto Liebgott, o ataque tem a intenção de causar temor na comunidade, fazendo com que eles abandonem o espaço de luta territorial. “O Cimi avalia isso com muita preocupação. Segundo o cacique, os agressores afirmaram que, com o novo governo, eles têm agora poder de polícia para defender as propriedades. Então, há um estímulo no âmbito da política para que esse tipo de ação se desenvolva”, avalia Liebgott.