“Comecei e termino em Tubarão”

O comandante relatou as dificuldades enfrentadas e as funções desenvolvidas no trabalho  - Foto:Alice Goulart Estevão/Divulgação/Notisul
O comandante relatou as dificuldades enfrentadas e as funções desenvolvidas no trabalho - Foto:Alice Goulart Estevão/Divulgação/Notisul

Alice Goulart Estevão
Tubarão

Depois de três anos no comando do 5º Batalhão de Polícia Militar de Tubarão, o tenente-coronel Giovani Silveira do Livramento deixará o cargo no dia 5 do próximo mês. A data marcará os 182 anos de existência do batalhão e também será realizada uma formatura de oficiais. 

Ele atuou durante 26 anos em diversos cargos no batalhão.  “Fico feliz porque comecei em Tubarão e vou terminar aqui. Isso demonstra um prestígio em relação ao trabalho prestado. Senti muita satisfação quando fui convidado para assumir esse cargo em 2013”. 

Livramento ainda acrescenta que os resultados positivos do seu comando são também devido ao comprometimento da equipe engajada, o apoio das empresas e da comunidade. Na corporação, quando se aposenta, na verdade o policial torna-se reserva. Isso significa que, se necessário, ele pode ser chamado de volta.

Seu plano agora é estudar para fazer a prova da OAB e retornar a carreira na área da advocacia. “Nessa função, todos os dias têm novidade, é uma adrenalina. Será estranho o telefone não tocar a todo momento, não ter várias reuniões e responsabilidades. Por isso não planejo ficar parado”, prevê. 

O sucessor deve ser nomeado pelo comandante geral da Polícia Militar de Santa Catarina, Paulo Henrique Hemm. Caso ninguém for convidado até a saída de Giovani, o atual vice-comandante, major Vilson Sperfeld, assumirá temporariamente. O novo comandante virá de outra cidade, já que Tubarão não possui em seu efetivo outro tenente-coronel, critério para atingir a função. 

As taxas de homicídio e roubos
A diminuição nas taxas de homicídio no município é devido à repressão contra as gangues, principalmente no Morrotes e na Área Verde. Este ano houve três homicídios, comparados a cinco no ano passado até esse mesmo período. “Mas a cidade é a ponta do problema, só o tráfico. O que acontece aqui é afetado pela região, estado e as facções maiores. Por isso também focamos na prevenção”, relata. Já o aumento de furtos e roubos é por uma questão social. De acordo com Livramento, grande parte dos delitos foi relacionada com produtos alimentícios. Há um efeito dominó, já que o bandido comete um crime, é preso, depois solto, não consegue um emprego lícito, então volta para o crime e é preso novamente. “É uma debela, são casos de reincidência”, lamenta. Estes crimes têm relação com o tráfico também, já que as drogas apreendidas pela polícia resultam em ‘prejuízos’ aos criminosos. Desta forma, os bandidos praticam assaltos para recuperar o dinheiro perdido. 

O efetivo e as viaturas
O 5º batalhão atende, em média, 75 ocorrências a cada 24 horas. “A demanda é bem maior que o efetivo. A previsão para a contratação de mais policiais é a partir de junho do ano que vem. Mesmo assim, não é garantido que venham para Tubarão. E quando há contratação, a proporção não acompanha o aumento da criminalidade”, avisa.  Hoje, há cerca de 240 agentes para atenderem os seis municípios de abrangência do batalhão. Há dez anos havia quase o dobro. Seria necessário em torno de dois mil novos policiais por ano para dar conta. Mesmo assim, para o comandante, é preciso ter um alinhamento entre todos os órgãos envolvidos em segurança pública, como a delegacia, Ministério Público e a justiça. No município, há sete viaturas e outras duas estão baixadas (problemas). “O estado não repassa verba desde janeiro, por isso atualmente a conta do batalhão está no vermelho. A solicitação já foi efetuada e a resposta deve ser dada ainda nesta semana. O dinheiro serve para a manutenção dos carros, gasolina, frota e alimentação. As viaturas só voltam para o batalhão para a troca de guarnição. O motor não chega a esfriar. Estamos em uma cidade onde há monitoração 24 horas ao dia”, ressalta.

Os adolescentes envolvidos na criminalidade
O número de adolescentes envolvidos em crimes aumentou, principalmente no tráfico de drogas. No 5º batalhão, 40% dos detidos com menos de 18 anos são por tráfico e 60% não têm o ensino fundamental completo. “Os adolescentes são pessoas em formação, são reféns dos criminosos, semelhante ao usuário que se torna vendedor para sustentar seu vício. A gente ouve deles coisas como: ‘se eu não fizesse tal coisa, eu voltaria para minha comunidade e o chefe me mataria’”, revela.  A proteção legalmente é interessante, mas na prática não funciona, pois se torna um ciclo vicioso. As crianças são convencidas a entrar neste mundo porque veem como algo glamoroso, com motocicletas, arma de fogo e dinheiro.  “Elas vêm de famílias desestruturadas. Não conhecem outro mundo, não têm uma noção de trabalho além daquilo. Olham a polícia como desordem porque acabamos com o que, para elas, é ordem. É o traficante que dá dinheiro para uma lata de leite ou remédio”, explica. 

A origem do crime
A Cidade Azul é cortada por uma rodovia, o que facilita o acesso, e possui dois presídios, onde a cada seis meses há regressos. Esses são alguns dos motivos que Livramento vê como a razão para a criminalidade no município. Inclusive, para ele, a maioria dos crimes tem ligação com o tráfico. “Não somos onipresentes, então temos que priorizar as ocorrências”, observa. Mesmo assim, nem todos os problemas podem ser resolvidos com uma viatura a cada esquina. Alguns são ligados a outros setores. “Um exemplo é a ponte em frente à Unisul. Depois de instalados os postes de iluminação diminuíram os roubos e estupros no local”, cita. A ampliação das câmeras de videomonitoramento também ajudou na prevenção e na resolução de crimes. Além de poder enviar a polícia diretamente para um local com atividade suspeita, as imagens servem de prova para justiça. “Também tem um fator psicológico. Se o bandido sabe que o local é monitorado, tem menos chance de cometer o delito”, enfatiza.