Cliente agredido em supermercado de Florianópolis vai abrir ação judicial contra empresa

O rapaz que foi agredido por um segurança dentro do supermercado Big, na noite de terça-feira (7), vai entrar com ação judicial contra a empresa. A informação é de um dos dois advogados que atuam na defesa de Renan Rodrigues, Eduardo Herculano Vieira de Souza.

Segundo o advogado, que é presidente da comissão de Igualdade Racial da Abracrim (Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas) em Santa Catarina, o primeiro passo foi fazer o registro do boletim de ocorrência e a realização do exame de corpo de delito, no IGP (Instituto Geral de Perícias).

O resultado do exame pode sair nesta sexta-feira (10), quando o advogado também deve conversar com o delegado responsável pela investigação, Atílio Guaspari Filho, da 5 ª DP (Delegacia de Polícia) de Florianópolis. “Vamos pedir as imagens da agressão registradas pelas câmeras de monitoramento”, afirma o advogado.

O inquérito policial, entretanto, ainda não foi aberto. De acordo com o delegado, o caso está na fase de investigação.

Testemunhas
Souza informou ainda que duas testemunhas que estavam presentes durante o ocorrido já aceitaram prestar depoimento. Ele também disse que a matriz da rede de supermercados sediada em São Paulo deve fazer contato para uma possível negociação. “Eles já assumiram total responsabilidade [sobre o caso]”, diz Eduardo Herculano de Souza.

A intenção, conforme Souza, é entrar com ação criminal por lesão corporal e suposta injúria racial, além de ação cível por danos materiais e morais. O outro profissional que acompanha o caso é Helio Rubens Brasil, presidente da Abracrim/SC.

Entidade repudia agressão

Em suas redes sociais, a Abracrim postou uma nota repudiando a agressão:

“A ABRACRIM, entidade sacramentada sob os mais nobres valores pétreos da igualdade e da dignidade da pessoa humana, por intermédio da Comissão da Igualdade Racial, vem por meio desta nota, manifestar total repúdio ao violento e infeliz acontecimento no dia de ontem (07/01) em uma rede de supermercados de Florianópolis.

Em tempos de instabilidade social e política, a discriminação manifesta pelo estigma racial tem se emoldurado exponencialmente nos ambientes coletivos e continua cravando feridas, ao passo que a justificativa dos atos de violência permanece sendo puramente, o racismo.

Renan Rodrigues, trabalhador do mesmo shopping no qual é sediado o supermercado em alusão, dirigiu-se à rede com o intuito de realizar compras. Na saída, sem encontrar o que procurava, foi abordado por um segurança do local que lhe disse para acompanhá-lo. Sem entender a razão que obstava sua retirada do supermercado, tampouco sendo informado do que estava acontecendo, foi violentamente arrastado pelo pescoço da entrada do supermercado até o interior da loja. O fato, por óbvio, gerou tremendo abalo, submetendo Renan a uma situação extremamente vexatória, resultando em danos físicos e acima de tudo, morais. A vítima, ainda fora informada pelo segurança do local que estaria sendo “vigiado” há algum tempo, na suspeita empreitada de ocultar e furtar produtos, sendo acusado ainda de integrar uma “quadrilha” voltada à esta prática delituosa.

A reiteração de comportamentos como este reforça o caráter (não mais) velado que o racismo estrutural assume no ambiente social. Não é admissível que haja condescendência frente a tamanha violência. O episódio narrado não diz sobre integração ou tolerância, e sim, sobre o simples reconhecimento como ser humano digno de respeito, honra, de ser visto como igual. Frise-se que esta comissão não realiza juízos de valor, e seguirá intransigente na defesa de quaisquer atos atentatórios a igualdade formal e a dignidade humana. Espera-se de imediato que os fatos sejam apurados na medida da violência empregada, e com a mesma energia despendida ao acusar, agredir e vilipendiar o psicológico de outro ser humano.

Presidente Estadual da Abracrim: Helio Rubens Brasil

Presidente Estadual da Comissão de Igualdade Racial da Abracrim: Eduardo Herculano Vieira de Souza

Presidente Nacional da Comissão de Igualdade Racial da Abracrim: Dra Ananda Ferreira”

Entenda o caso

Renan Rodrigues, de 25 anos, foi ao supermercado Big, localizado nas imediações do shopping Iguatemi, no bairro Santa Mônica, na terça-feira (7) à noite.

Ele havia terminado o expediente de trabalho em uma loja de produtos naturais no mesmo shopping, e foi até a unidade para comprar uma cerveja. Não encontrando o produto desejado, já estava deixando o estabelecimento quando foi abordado pelo segurança na saída do supermercado.

O segurança o agarrou pelo braço e o carregou para dentro da loja, acusando-o de furto e “formação de quadrilha”. Conforme Renan, a segunda acusação foi porque, segundo o segurança, ele já estava sendo “observado há muito tempo”, escondendo produtos para outras pessoas pegarem – entre eles, carne.

“Faz anos que não como carne, imagina roubar uma”, lamentou o estudante em seu relato nas redes sociais.

Renan afirma que levou uma ‘chave de pescoço’, gritou por socorro, mas ninguém o ajudou. Suas roupas ficaram rasgadas e seus pertences jogados no chão, até que uma pessoa teria pedido para o segurança parar.

“Saí de lá com um rasgo no rosto, sangrando, roupas rasgadas, me sentindo envergonhado pelo dano e assédio moral que ele, aquela situação, me causou”, desabafou o universitário.