Amor bandido: O sofrimento de quem tem o marido preso

Maycon Vianna
Tubarão

Toda semana, uma jovem de 20 anos, de Tubarão, visitava um jovem de 26 anos, natural de Joinville, que cumpria pena por tráfico de drogas no presídio regional. Duas vezes por semana, ela cumpria o papel de companheira e amiga. Levava alimentos e roupas para confortar Gustavo, voltava para casa e esperava pela próxima semana, quando tinha o direito de fazer nova visita.

Uma triste coincidência ocorreu sexta-feira passada. A jovem foi presa em flagrante ao levar drogas dentro de laranjas. No mesmo dia, o marido foi morto durante uma briga dentro da cela 13. Ela e mais duas mulheres foram levadas ao Presídio Regional de Tubarão, onde hoje ocupam a ala feminina.

Cuidados domésticos, criação dos filhos (ela tem três crianças frutos de outros relacionamentos – o mais novo com cinco meses, outro de um ano e três meses e o mais velho de dois anos), acompanhamento do processo penal do companheiro e baixa renda. Tudo faz parte da rotina de mulheres que, como a jovem, ‘param no tempo’ para conseguir conciliar as responsabilidades impostas por dois mundos: a liberdade e a realidade carcerária.

O encontro desses dois mundos cria situações muitas vezes de constrangimento, humilhações e deixa estigmas. As revistas íntimas, de bolsas, sacolas e alimentos são inevitáveis. Algumas dessas mulheres, namoradas, esposas nunca cometeram crimes, mas sofrem as consequências e a discriminação pacientemente. Outra jovem, de 22 anos, também de Tubarão, cujo namorado está preso há quatro anos por roubo, não desiste: “Eu não vou deixar de visitá-lo. A gente que é mulher paga por isso”, desabafa.

Outras entram no mundo do crime, como o tráfico, para suprir a falta dos recursos antes providenciados pelo marido ou tentam levar entorpecentes para dentro das celas (leia matéria abaixo). Durante as visitas, algumas são coagidas e ameaçadas pelos companheiros detidos a praticarem esses delitos e também acabam presas.

Para elas, fica difícil assumir o romance

Mulheres que se relacionam com detentos do Presídio Regional de Tubarão fazem de tudo para conseguir com que eles cumpram uma pena digna e não os ‘deixam na mão’.
Muitas vezes, elas reclamam por não poder levar certos itens (comida e objetos), proibidos pelo regimento interno das penitenciárias. “O sistema é obrigado a limitar esse número de itens que podem entrar. Por mais que muitas façam isso de forma legal, outras tentam entrar com drogas escondidas ou celulares. Mas as vistorias são constantes e eficientes”, afirma o diretor do Presídio Regional de Tubarão, Ricardo Welausen.

A situação piora para as mulheres dos apenados quando, no dia-a-dia, precisam esconder o casamento para conseguir manter os seus empregos.
Uma jovem de 23 anos diz não se envergonhar. “Eu tiro minha aliança quando procuro emprego, para que não me perguntem onde está meu marido e ter que dizer que ele está preso por tráfico de drogas há cinco anos”, admite.