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Políticas públicas: O ‘cantinho’ da solidariedade

Carolina Carradore
Tubarão

As marcas de expressões no rosto evidenciam os longos anos vividos por Osmar Hoesfner. Aos 60 anos, ele não tem moradia fixa e há 16 anos perambula pelo Brasil afora, sem destino. Esta semana, chegou a Tubarão e, com uma singela mala de roupas, procurou um ‘cantinho’ no Albergue Noturno Pousada da Paz, localizado no bairro São João.

Depois de três anos de lutas e conquistas, a sede nova da instituição foi inaugurada, no mês passado, e só esse ano já atendeu 1.934 pessoas, entre população de rua, migrantes e andarilhos.
E para o projeto sair do papel, um verdadeiro trabalho de formiguinha foi realizado. “Ganhamos cozinha, material de construção, enfim, tivemos auxílio de várias empresas da cidade para que o sonho tornasse realidade”, comemora o vice-presidente do Pousada da Paz, Edgar José Farias.

Direcionado a abrigar pessoas que estão de passagem em Tubarão, a sede nova conta com 30 leitos, oito femininos e 22 masculinos. Uma novidade é o projeto de inclusão digital. Uma sala com computadores doados por empresas ficará à disposição do albergados, auxiliados por um corpo de voluntários, uma forma do albergado ter um pouco mais de contato com o mundo virtual. Depois das 19 horas, o cheirinho de comida boa espalha-se pelos dormitório, tudo preparado pelos mais de 60 voluntários da instituição, divididos em 30 equipes.

Trabalho silencioso
Sem recursos públicos, é através da solidariedade de pessoas que preferem o anonimato e um trabalho silencioso que o albergue consegue fazer o seu papel. “Nunca falta comida. Os voluntários reúnem-se, compram leite, alimentos. Quando alguém vê que algo está faltando, prontamente dá um jeito de repor. É o amor ao próximo que fala mais alto”, diz Farias.

No andar de cima da sede nova, há um espaço mais procurado na casa. A sala de palestra serve para reuniões e palestras de motivação. Muitos albergados, espontaneamente, participam dos eventos promovidos e ouçam palavras de amor e fé.

Atendimentos
O Albergue Pousada da Paz funciona das 19 às 7 horas e oferece banho, jantar e café da manhã. A hospedagem é de cinco dias, mas o período pode estender-se, dependendo da situação de cada albergado. Conta também com o apoio da Guarda Municipal. Fundado em 1996, atendeu em 14 anos 44.579 pessoas.

Políticas públicas de igualdade

Na última segunda-feira, o Notisul publicou a história de Osmar dos Santos, 44 anos, que mora há quatro anos embaixo da ponte Dilney chaves Cabral. Desde então, o reciclador comemora os donativos que ganhou da comunidade que se sensibilizou com sua história. “Já ganhei roupas, cobertores, sapatos. Agradeço a todos que me ajudaram”, diz.

A história do morador de rua chamou a atenção do vice-presidente do Albergue Noturno Pousada da Paz, Edgar José Farias, e levanta a discussão dos moradores de rua de Tubarão. Ele oferece à prefeitura uma parceria com a entidade para que o antigo prédio do albergue possa ser usado tanto como casa de passagem, como em casos de emergências, como enchentes.

“A inclusão de pessoas em situação de rua passa pelo resgate da cidadania e da consciência da sociedade para políticas públicas de igualdade. Prescindimos de lei municipal que regule as relações de parceria para o desenvolvimento dos serviços socioassistencias”, reitera. Para ele, não se retira uma pessoa da rua colocando, simplesmente, em uma casa. São necessárias ações integradas com toda a rede de serviços públicos, elaboração de planos e projetos advindos de mais ampla participação social, através dos fóruns e conferências.

“Quero encontrar minha família”

Acolhido temporariamente no Albergue Noturno Pousada da Paz, Osmar Hoesfner, 60 anos, sonha em encontrar a família que não vê há quase 20 anos. “Ainda tenho saudade dos meus parentes e sonho com um lar e o calor humano das pessoas”, relata.

Natural de Joinville, Osmar era caminhoneiro e vivia uma vida tranquila ao lado da esposa. Depois dos 40 anos, virou depende químico. Viúvo, abandonou tudo: família, emprego e amigos. “A cocaína acabou com a minha vida. Estou há mais de uma década morando na rua, dependendo da solidariedade das pessoas”, conta.

A última passagem de Osmar foi no Amazonas. Depois de dias e dias de caminhada e caronas, chegou a Santa Catarina. Depois da estada em Tubarão, pretende seguir viagem ao norte do estado, em busca dos parentes.

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