Zilda Arns morreu e multiplicou-se

O trabalho da catarinense Zilda Arns, médica pediatra e sanitarista, junto ao exército de voluntárias, é imensurável e impagável, porque salva a vida de milhares de crianças. Sua morte, surpreendente e lamentável, neste janeiro de 2010, no devastador terremoto do Haiti, no entanto, torna-se o indesejado, mas promitente fator multiplicativo.

Junto à divulgação deste infausto acontecimento, difundiu-se maciça e massivamente a sua obra. O que até então era conhecido por poucas pessoas, pelas voluntárias, pelos beneficiados e por algumas autoridades – foi indicada duas vezes para receber o Prêmio Nobel da Paz -, tornou-se conhecido de todos.

Misturar sal e açúcar na água limpa (soro caseiro) e casca de ovo, milho e outros (multimistura), para livrar as crianças pobres da desidratação e da subnutrição. Orientar as mães através das voluntárias, acompanhá-las e avaliar os resultados são práticas da Pastoral da Criança, da qual a Dra. Zilda é fundadora. Só no Brasil, 260 mil voluntários fazem 83 mil atendimentos mensais em quatro mil municípios. Outros 20 países da América Latina, África e Ásia copiaram a ideia com sucesso. Em Florestópolis, Paraná, onde tudo começou, a mortalidade infantil caiu de 127 óbitos, em cada mil crianças, para 28. Hoje, em nosso país, a média é 26, mas onde a Pastoral atua caiu para 13.

Quem não sabia que é possível salvar vidas com conhecimento e método científico, desprendimento e credibilidade para mobilizar pessoas voluntárias agora sabe e, com certeza, vai cobrar esta providência ou oferecer seu trabalho voluntário naqueles lugares onde crianças ainda morrem precocemente.

Dra. Zilda não precisou de vultosas somas de dinheiro, daqueles bilhões solicitados, que dificilmente chegam a quem de fato precisa, emprego suntuoso ou salário altíssimo, para diminuir uma das maiores chagas do nosso subdesenvolvimento, que é a mortalidade infantil. O seu exemplo vale para todas as áreas: Fazer muito com pouco. Paulo Freire começou na educação, mas foi expulso do Brasil pelo regime de exceção por ser considerado perigoso. A miséria, a desigualdade social e a violência não são fatalidades. São resultados, em grande parte, do egoísmo de poucos.