Uma colônia belga em Santa Catarina

Em 1841, o engenheiro e pesquisador belga Charles Maximiliano Luiz Van Lede fundou a Sociedade de Colonização Belgo-Brasileira, com a intenção de trazer colonos da Bélgica para trabalhar na exploração das jazidas de minérios, na bacia hidrográfica do Itajaí-Açu. Em 31 de março de 1842, Van Lede, junto com seus compatriotas Joseph Philippe Fontaine e Guilherme Bouliech, fez uma viagem de reconhecimento, tendo como guia o escrivão policial José Alves de Almeida.

Em 6 de julho de 1844, Van Lede e os irmãos Lebon adquiriram uma área de 2.150 hectares do cura padre Rodrigues, no local chamado Prainha. Em 21 de novembro de 1844, adquiriram outra área, de 1,2 mil hectares, de dona Rita Luisa Aranha. Depois, em 2 de janeiro de 1845, compraram as terras do tenente coronel Henrique Flores, uma área de 2.150 hectares.

Em agosto de 1844, partia de Ostende, na Bélgica, o navio Jan Van Eyck, com 114 imigrantes flamengos, a maioria da cidade de Bruges. Há exatos 166 anos, em 27 de novembro de 1844, aqueles primeiros 90 colonos belgas desembarcavam em uma pequena ilha que, se ainda existisse, ficaria bem no meio do rio Itajaí-Açu, de frente à igreja matriz São Pio 5.

A localidade onde hoje situa-se a cidade de Ilhota foi a primeira, e uma das poucas, colônia belga do Brasil. O nome do município foi dado por indígenas, que habitavam a região antes da chegada dos belgas, em função daquela pequena ilha, que veio a desaparecer depois da elevação do nível do rio, devido a duas grandes enchentes, as de 1880 e 1911.

Os imigrantes belgas passaram por vários problemas, desde a dificuldade de adaptação, até a divisão dos lotes e demarcação dos terrenos. Sem comida, dinheiro ou qualquer tipo de auxílio, sobreviveram aos primeiros seis meses em condições muito precárias, fazendo da coleta de vegetais, da caça e da pesca suas únicas fontes de alimentos.

Em janeiro de 1845, já havia uma segunda colônia, dissidente da primeira, com a chegada de outras 60 famílias, trazidas, também, por Van Lede, que, no entanto, retornou a seu país, em setembro do mesmo ano. Quando morreu, em 19 de julho de 1875, Van Lede deixou o título da propriedade como legado ao hospital de Bruges, na Bélgica.

Começava aí mais uma luta dos colonos pela legalização de suas terras. Quando o hospital enviou um representante (Van Dye) com procuração para vender as terras, gerou violenta reação dos colonos. A partir daí, a colônia começou a entrar em decadência e os habitantes espalharam-se por toda Ilhota. Não se sabia mais quais eram os limites das terras da colônia.

Muitas famílias belgas foram embora para outras localidades ou retornaram para sua terra natal. Ficaram apenas os Maba, os Brockveld, os Maes e os Castellain. O município está reafirmando suas origens e buscando atrair turistas para se sentirem em um pedacinho da Bélgia.

Este ano já foi realizada a 2ª Expobelga, com mais de 15 mil visitantes, que puderam, inclusive, assistir a uma bela apresentação do grupo de dança típica Belga. O que era para ser uma rica província mineral, baseada na extração do ouro, tem hoje sua riqueza expressa no nosso maior polo têxtil de moda íntima e de praia.