Um homem que encontrou o sentido da vida

Recebi surpreendentemente uma correspondência de um padre, contendo dois livros intitulados: Catequese com humor e Um homem que encontrou o sentido da vida. Segundo ele, estava os enviando por motivo do Ano Catequético Nacional que a igreja no Brasil está celebrando. Trata-se do Pe. Miguel Lucas, agostiniano, pároco da Paróquia de Santa Rita de Cássia, da Vila Mariana, da cidade de São Paulo.

Comecei a folhear os dois livros. O primeiro, Catequese com humor, é criativo e interessantíssimo. O segundo, Um homem que encontrou o sentido da vida, embora minúsculo como livro, possui uma profundidade enorme, apresentando a vida e a conversão de Santo Agostinho a partir de sua grande obra Confissões. Lendo a introdução que o autor escreveu, algumas afirmações aí contidas me chamaram a atenção e pretendo trazê-las aqui presentes porque são muito pertinentes.
Começa o Pe. Miguel Lucas a introdução fazendo referência a uma experiência dele: “Um senhor me confidenciou certo dia que algumas perguntas que lhe fiz haviam transformado sua vida: ‘quanto tempo dedico a conhecer-me? Quem sou eu e como realizo o que sou?’”.

Hoje, pensamos pouco ou nada sobre nós mesmos, porque estamos quase todos marcados mais pela civilização do ter e do prazer do que pela do ser e do amor. A crise da sociedade pós-industrial reflete-se na separação nefasta entre a conduta econômica e a conduta ética. Portanto, mais do que de uma crise econômica, trata-se de uma crise de valores, de razões para viver. Agora que a pessoa humana tem abundantes meios de vida, faltam-lhe os motivos para existir. É urgente a tarefa de ajudar as pessoas a encontrarem um sentido para a vida, dolorosamente vazia, submersa na angústia e na depressão.

O ser humano, na sua ‘angústia vital’, necessita de um modelo exemplar para sair do ‘vazio’ que sente no seu coração e na sua inteligência. Vazio persistente e torturante, que não se enche com o ter e o prazer. É esse também o drama de Santo Agostinho antes da sua conversão. Como a sua, a angústia que a pessoa humana de nossos dias experimenta é o anseio de felicidade, que não consiste, nem pode consistir, na sua acomodação material do ter e do prazer, mas no encontro com a verdade. Em contato com Santo Agostinho (através das suas ‘confissões’) nos sentiremos “mais pessoas humanas”, já que ele encarna fielmente o ser humano no seu processo de conversão: um caminho que mudou sua história com a decisão e responsabilidade em relação à verdade.

Agostinho é uma alma apaixonada que, com a sua experiência do pecado, da vaidade das coisas do mundo, da amizade, do amor, descobre que cada um decide sua própria felicidade ou infelicidade. Sua autobiografia, Confissões, é uma profunda análise psicológica que reflete duas coisas: uma, a realidade totalmente atual: a da pessoa humana escravizada pelos “valores” que lhe apresenta nossa sociedade e pela falta de coragem para enfrentar honestamente a verdade, assumindo decisões e responsabilidades; e outra, sua luta para encontrar um sentido para a vida, dolorosamente vazia.
Dezesseis séculos após sua conversão, Agostinho segue sendo um exemplo que nos estimula a aproveitar o sofrimento e os conflitos interiores, para decidir uma mudança que nos faça protagonistas de nossa vida, donos de nosso destino e merecedores da verdadeira felicidade.