Um ano sem Beto Carrero

No dia 1º de fevereiro de 2008 (há exatamente um ano) Santa Catarina e o Brasil perderam João Batista Sérgio Murad, o Beto Carrero. Uma comoção popular, como jamais se viu em Santa Catarina, acompanhou-o durante todo o longo trajeto do féretro, que seguiu, lentamente, desde o parque até a Igreja da Penha.
Milhares de pessoas o acompanharam, a pé, chorando. Nas calçadas, outros milhares acenavam, mostravam sua foto, gritavam seu nome, emocionadas. Naqueles momentos de dor, senti como Beto havia conquistado o coração do nosso povo.

Beto Carrero foi um semeador de sonhos. Poderia ter sido feita para ele a frase de Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Na verdade, Beto já era encantado. Sua morte só fez aumentar o seu encanto, a ponto de transformá-lo num mito, que vem aumentando a sua aura decorrido já um ano de sua travessia.
Sua obra, um hino às crianças, uma ode à alegria, um elogio à vida era o reflexo mais que perfeito da sua própria alegria de viver, de seu incontível entusiasmo realizador, de sua inexcedível capacidade de acreditar. Contraditoriamente, o mundo de fantasia criado por Beto é de uma concretude avassaladora, facilmente verificada pelo número de turistas de todo o país que acorrem ao Beto Carrero World, durante o ano inteiro.

O lúcido e irreverente jornalista H. L. Mencken costumava dizer que “lenda é uma mentira que adquiriu a dignidade da idade”. A dignidade lendária que dele emanava não era a da mentira idosa, mas a da verdade eterna – a da alegria, que, para Oswald de Andrade, era a prova dos nove.
Superada a fase da tristeza pela perda do amigo, advém uma calma serena de quem tem certeza de que ele viveu plenamente, tendo conseguido realizar os seus mais ambiciosos sonhos.

Quem já esteve no parque sabe bem como aquele universo de encantamento arrebata os céticos mais empedernidos, enternece os mais duros corações, enche os olhos de luzes, cores e movimento.
No dia 22 de dezembro, 40 dias antes da sua morte, estivemos juntos numa viagem ao oeste. Sabendo-o um excepcional empreendedor, eu queria que ele conhecesse a fábrica que Acary Menestrina construiu em Guaraciaba, para produzir um queijo “grana padano” tão bom quanto o original italiano.

Para incentivá-lo a criá-las e produzir queijos de alta qualidade, fomos a Anchieta conhecer uma criação de ovelhas de leite. E dali para São Lourenço d’Oeste, aonde Ângelo Fantin realizou o milagre de construir um império de biscoitos, a Parati. Ali, a força criativa de Santa Catarina reuniu três de seus maiores empreendedores.
Um ano depois de sua morte, a imagem mais forte que me fica do amigo Beto é a de um exemplo digno de ser seguido. Pois como dizia o filósofo alemão Albert Schweitzer, “dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros – é a única”.

E, felizmente, é o que está ocorrendo com os continuadores de sua obra, à frente os filhos Alexandre e Juliana e os fiéis amigos Aristides e Hugo.
Mesmo depois de erguer do nada o maior parque temático da América Latina, e quinto do mundo, Beto ainda tinha grandes planos: uma marina, um resort, um autódromo internacional e uma das maiores montanhas russas do mundo, que já é realidade, graças à sua inspiração e a fidelidade de seus seguidores.