Transformar acusações em cooperação (fim)

O professor, em  vez de contra-atacar, acusando os pais por não educarem os filhos ou não acompanhá-los nas suas responsabilidades escolares, o que lamentavelmente acontece, deve verificar se de fato acredita na aprendizagem de todos os alunos, se utiliza metodologia de ensino que justifica e problematiza os conteúdos escolares, e desafiando os alunos a aprendê-los, principalmente os de maior dificuldade e, se construiu com os estes, cumpre e faz cumprir o contrato didático. Deve também chamar os pais para orientá-los e, se não for suficiente, solicitar ajuda do corpo diretivo da escola, que procurará outras instâncias, se necessário.

Também não deve o professor acusar o aluno de “não querer nada com nada”, ou de ser indisciplinado, antes de verificar se adotou as medidas acima citadas. O que não significa, em hipótese alguma, complacência diante de aluno que deliberadamente não quer aprender o desrespeita ou a outros alunos ou atrapalha as aulas. Deve utilizar primeiro as atitudes preventivas (leia-se ensino pela atitude e o contrato didático), e, se não for suficiente, o regimento da escola, o Eca – que, ao contrário do que muitos dizem, principalmente os que não o leram, contém direitos, mas também deveres e medidas sócioeducativas para as crianças e adolescentes. Se ainda não for suficiente, deve recorrer à direção da escola, ao Conselho Tutelar e à Promotoria ou Juizado da Infância.  

Por sua vez, o aluno não deve criticar as faltas ou as chegadas tardias do professor, ou as aulas monótonas ou mal explicadas, somente quando pressente que será reprovado ou que é o único prejudicado. Deve fazê-lo imediatamente, conversando com o professor e com a direção, caso não melhore. Isto não o exime de cumprir com as suas obrigações de estudar pelo menos duas horas diárias no período pós aula, mesmo quando estuda em tempo integral, e de cumprir o contrato didático.

Os educadores, em vez de se limitarem a justificar os seus desempenhos devido aos baixos salários, às péssimas condições de trabalho e à ausência de capacitação, que são reais, devem primeiro fazer o dito nos parágrafos anteriores  e, organizadamente, buscar aliados junto às demais instâncias da sociedade para que seus pleitos sejam atendidos. Por sua vez, os governantes devem economizar a retórica e colocar dinheiro novo na educação para atender os pleitos do magistério, que são fundamentais para melhorar a qualidade de ensino, e cobrar-lhes resultados.

O mercado de trabalho, por seu turno, deve abandonar as queixas por não receber mão-de-obra qualificada e apressar o casamento com as escolas, oferecendo-lhes recursos financeiros e gestão para receber os  talentos que a fazem competitivas. Do contrário, continuará pagando duplamente: os impostos, altíssimos, diga-se de passagem, e construindo suas próprias escolas.    

Somente iniciando com um pacto de responsabilidade individual e de cooperação mútua entre os corresponsáveis, as escolas, principalmente as públicas, e parte majoritária da sociedade brasileira serão libertados do atraso que aprisiona os seus futuros.