Ser pai

Independente de nossa idade e estado civil, ficamos grávidas e nessa exata hora viramos mulher, o que esperamos imediatamente que ocorra com os pais de nossos filhos. Vamos pensar que culturalmente, historicamente e fisicamente, de acordo com o livro Por que homens fazem sexo e mulheres fazem amor: “o homem pensa que ser pai é apenas fazer o filho”.

Com o exame laboratorial que atesta nossa gravidez, que muitas vezes entregamos à família com aquele ar soberbo de “eu já sabia”, tudo a nossa volta começa a transformar-se e, para nosso desespero e ajuda ao ‘destempero emocional hormonal’, o nosso corpo é o primeiro…
Dali em diante toda a mulher passa a ser mais interessante que nós e muitas vezes avisamos isso durante a gestação inteira, mesmo que o pai de nosso filho nunca concorde com isso.

Aí começa a nossa preocupação com a estrutura do neném, roupas, reforma do quarto, decoração do quarto. O pai de nossos filhos ainda nem terminou de pensar quantas ‘peladas’ vai precisar deixar de jogar, por quanto tempo vai ter que trancar a matricula da faculdade ou quantas pescarias vai perder, e começa a fazer as contas do quanto mais vais ter que trabalhar ‘sem dormir’, de acordo com um ‘experiente’ amigo, para comprar tudo! Aí tem a preocupação com o sexo do neném, essa parte é importante, o que é comum comprar de brinquedos para as meninas? E para os meninos?

Incentivamos nossos meninos a terem carros potentes, motos velozes, aviões supersônicos, trens… e nossas meninas as bonecas mais lindas e meigas do mercado, de preferência as que dizem “mamã, mamã…”. Os meninos normalmente precisam de mais espaço, brinca nos quintais, praças, campos, meninas no quarto, em uma casinha de bonecas rosa com janelas brancas com flores ou, no máximo, em um canto pequeno da sala…

No primeiro dia na escola nos preocupamos tanto e nossas meninas já estão mais que preparadas, enquanto os meninos… não querem nos largar, ‘para nossa alegria’. Chegando em casa o pai diz: “Filhinha do pai, se algum malandro chegar perto de você… Ai, ai, ai, ai. Você me chama’. E para o filho: “E aí filhão, me conta, muita gata na escola?”. Na festa de aniversário do filho do amigo, pais reunidos quando seus filhos aproximam-se após os chamarem por pelo menos cinco vezes: “pai, pai, paaaaaaaaaaaaaaaai”. Olham para baixo, ouvem (sem ouvir) e quando a criança afasta-se, bate no peito e diz para o amigo: “Esse vai ser pegador”. E se for menina: “Sabe que já a convidaram para fazer um book?” (detalhe: eles têm menos de 3 anos) e o complemento: “Mas claro que não vou deixar. Filha minha nunca vai ser modelo”.

E nós mães? Agimos diferente? Alguma de nós ensina filho homem a brincar de casinha e ser papai? Incentiva os filhos a estarem na cozinha quando eventualmente cozinhamos? Pedimos a nosso filho adolescente para ajudar a cuidar de um neném de uma amiga? Nós só deixamos de acordar de manhã para ‘preparar o café’ quando eles se cansam de ouvir as recomendações, sempre iguais, todas as manhãs e dizem: “Mãe neeeeem precisa levantar… pode deixar que me viro”, neste caso para a nossa frustração.

Eles jogam futebol, videogame, jogos de estratégia no computador, surfam, jogam vôlei, basquete (todos de competição), ficam no orkut para ver se aquela amiga bonitinha da colega de escola não é ‘pelega’ e entram no MSN no máximo para combinar estratégias do Counter-Strike ou combinar alguma ‘parada’ com amigos que não pegaram o número do celular… Ensinamos os filhos homens a dirigir, e tem que ser beeeeem na segunda aula. Compramos poucas roupas, mas roupas de marca, ficamos descabeladas com notas ruins, sempre confiando no ‘amadurecimento masculino tardio’, entram na faculdade sem saber exatamente para que serve, o que querem, mas choramos aos ver seus nomes na lista de aprovados.

Levamos nas festas e depois cheiramos suas roupas para ver se sentimos algum perfume feminino, damos umas olhadas nas ‘amiguinhas do orkut’ de vez em quando (só para checar), compramos e entregamos camisinhas e ainda incentivamos o treinamento para uso (jurando claro, que nunca deixarão de usar), mas nem queremos saber se já usaram antes de comprarmos ou se já sabem usar). E, assim, vamos formando os pais dos filhos do futuro.

Deus os livrem de darem-nos a notícia do ‘aparecimento de uma gravidez’. Nós os avisamos taaaaaaaaaaanto! Penso que já é momento de refletirmos o quão heróis são os pais de nossos filhos, aqueles que hoje trocam fraldas, dão banho, ensinam a andar de bicicleta, levam para cortar o cabelo, são parceiros de passeios, abraçam, beijam e, principalmente, os que têm coragem de chorar em sua formatura ou casamento, porque não conheço nenhuma mãe que ensinou seu filho a ser um homem emocional. Parabéns, do fundo de meu coração, a todos os pais-heróis modernos e, dessa forma, homenageio meu pai-herói que hoje cuida-me do céu.