Religião, ignorância e fanatismo

Recentemente, foi publicado aqui neste espaço um artigo de minha autoria cujo tema era ‘Profecia e Ignorância’. Além de ter causado dúvida a um bom número de doutrinários ainda indefinidos ou mal resolvidos, gerou também celeuma a um grupo de pessoas demasiadamente ligado a algum tipo de crença religiosa. Procuro sob a óptica da singularidade não generalizar nenhum tipo de fato, para evitar possível constrangimento. Minha intenção é ilustrar no texto, como observador, somente o posicionamento, a saber, como os milhares de seguidores vivem, agem, sentem e praticam os ensinamentos divinos, muitos deles histericamente, nos mais diferentes cantos do universo.

Entendo que não há ninguém neste astro que gira em volta do sol, por mais inteligência e conhecimento, seja na área teológica ou filosófica possuir o dom da real verdade. É importante ressaltar, que instrução e inteligência são coisas completamente diferentes. E, ao envolver-se religião, fica muito mais difícil imaginar coisas mais antagônicas do que essas. Quanto mais inteligente e instruída uma pessoa for, teoricamente, sente-se mais capaz de julgar as diferenças entre o certo e o errado.

No infinito enigma da humanidade, profecias é o que não faltam. Em passado não muito distante, previa-se o fim do mundo, precisamente na virada do século. Nada aconteceu. Agora, comenta-se por aí que em dezembro de 2012 será para valer o fim dos tempos. Apesar de existir aos montes criaturas que atuam na predição do futuro, será que alguém acreditaria neste sistema de astrologia sideral e tropical do esoterismo? Está escrito na sagrado Bíblia que um dia isto ocorrerá, porém, nenhum dos mortais saberá como e quando será. Com certeza, vai continuar sendo o grande mistério da vida.

Todavia, analisando pelo aspecto utópico, religião e fanatismo, guardadas as devidas proporções, são temas quase fora de diálogo entre os povos, com dimensão acima do tolerável, principalmente em países eminentemente atrelados na inflexão e no modo de sentir a fé. Os extremistas, por exemplo, oferecem até a última gota de sangue em nome de sua reverência máxima dos céus – maior grau de paixão do sectarismo. Os sintomas do fanatismo, em grupo, são: orações, privações, peregrinações, jejum, discursos monológicos e martírios que podem terminar com o sacrifício da própria vida visando salvar o mundo das “trevas” ou do que ele entende ser o mal.

O fanático não fala, faz discursos, é portador de discursos prontos cujo efeito é a pregação de fundo religioso ou a inculcação política de ideias que poderão vir a se tornar ato agressivo ou violento, tomado sempre como revelação da “ira de algo imaginário” ou a inevitável marcha da história ou, ainda, a suposta superioridade de uns sobre os demais. Tudo que é em excesso (convenhamos) não faz bem a ninguém, o que para alguns pode ser o centro do equilíbrio, para outros caracteriza maneira de excentricidade doentia. Somos pessoas evolutivas e os nossos atos dependem de nossas ações, causa e efeito.

Enfim, é preciso estarmos atentos e preparados para resistir os apelos do fanatismo que por via de corrente compulsiva não escolhe situação nem lugar para se estabelecer. Os grupos fanáticos exercem um atrativo para os indivíduos que possuem uma estrutura psíquica vulnerável, os desesperados, os desgarrados, os avessos ao espírito crítico ou frágil predispostos à crendice, ao desejo de encontrar uma certeza e a se “contentar-se com pouco” na terra, porque ele tem certeza de que ganhará na suposta vida após a morte. Tanto o fanatismo como as guerras estão entre as situações que se encontram na contramão da sabedoria divina.