Religião e comunidade

O professor Ingo Hermann, da Unisul, publicou no portal de notícias da universidade (em 18/03/2009) um artigo intitulado “Alguém realmente precisa de igreja?”. E sua resposta: “Acenda uma vela onde achar adequado e ore. Você não precisa de intermediários para conversar com o seu ‘ser superior’”. Com o mesmo respeito contido nas suas palavras, quero escrever as minhas.

Como sociólogo que sou, discordo de sua manifestação de desprestígio pela comunidade como forma de manifestação religiosa. Não acredito no individualismo, nem no individualismo religioso. Por isso, não penso que a religião deva ser reduzida a fato privado, consumo privado, com velas ou sem elas. Grupos religiosos e deístas, presentes também na Unisul, vivem a fé como integração comunitária. A Unisul, por ser constitutivamente leiga, pluralista, tolerante, acolhe a todos. Na nossa universidade, há vários grupos cristãos. Há vários professores, estudantes e funcionários de confissão cristã protestante, evangélica. Quando nós, professores, permitimos espaço de manifestação, eles apresentam as belas experiências que fazem.

No campus Tubarão, há alunos da igreja quadrangular (referência aos quatro evangelhos), assembleia de Deus, assembleia de Deus independente, igreja adventista. Na nossa Unisul, há, também, vários colaboradores deístas, que manifestam suas convicções também de forma comunitária. Refiro-me aos amigos da maçonaria, comunidade importantíssima na história liberal do Brasil, promotores dos valores da liberdade, igualdade e fraternidade quando falar nisso era até crime. Para tais grupos, a adesão a valores transcendentais manifesta-se em forma comunitária.

Há muitos colaboradores espíritas, que também vivem a fé e a caridade de forma comunitária. Na Unisul, há estudantes muçulmanos, para os quais a comunidade é também central. Na Unisul há, também, estudantes, funcionários e professores católicos. Eles são da Renovação Carismática Católica, do Movimento de Irmãos, do Movimento Cursilhos, do Movimento Focolares, da Canção Nova, ou de suas comunidades paroquiais e pastorais específicas, como a pastoral da juventude.

Todos os grupos citados proclamam a relevância da comunidade na manifestação da fé revelada ou deísta. Todos eles contestam com a vida o individualismo religioso típico de certo individualismo capitalista aplicado no âmbito da religião. Ter defeitos não é privilégio de comunidades religiosas, e seus adversários nem sempre são uma Brastemp. O risco presente na religião do individualismo, sem comunidade, é pensar de adorar Deus enquanto pode ser que se adore o eu, erigido a Deus. Além disso, a troca da comunidade pelo individualismo promove a desintegração social, como constatou o sociólogo francês Émile Durkheim nos livros Da Divisão do Trabalho Social e O Suicídio. A comunidade livremente escolhida, mantida e corrigida é purificadora, libertadora.

As religiões podem ser importante fator de agregação, como notou Émile Durkheim no livro As Formas Elementares da Vida Religiosa. Mesmo sendo não religioso, Durkheim não combatia as comunidades religiosas, porque apreciava, acima de tudo, a integração social. Citei o fato de muitos funcionários, professores e estudantes da universidade fazerem parte de comunidades religiosas ou deístas, justamente porque acredito que trazem para a universidade a força benéfica que encontram em suas comunidades. Por isso, torço para que a recomendação do professor de que se abandone a comunidade religiosa e se pratique individualismo religioso não seja acolhida, pois seria uma perda para a Unisul.

Efeito colateral, indesejado, da apologia do individualismo religioso é a promoção da desintegração social. Muitas pessoas encontram na integração comunitária em religiões a motivação para o trabalho altruísta, tão importante para as organizações, inclusive para a Unisul.
O humanismo da Unisul é definido pela sua alma, que não é individualista, mas leigo-comunitária, amante da participação e solidariedade, de matriz cultural cristã (Dehon e Osvaldo Della Giustina).