Por que não vamos logo “aos finalmentes”?

Era o que dizia Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, imortalizado pelo ator Paulo Gracindo, na novela O Bem Amado, exibida pela TV Globo nos anos 70. Ele costumava interromper seus interlocutores com o bordão: “Deixe de lado os entretantos e vamos logo aos finalmentes”. Na educação, tanto básica quanto superior, temos, entre outros, este problema: perdemo-nos nos “entretantos” (meios), dificultando a chegada “nos finalmentes”, que são o ensino e a aprendizagem. Focam-se discussões sobre quase tudo na escola, menos nos tópicos principais: ensino e aprendizagem. Acompanhando ações na educação, o jornal Folha de São Paulo (20/06/10) demonstrou que os alunos somente melhoraram o rendimento quando os investimentos chegaram ao professor.

Alertou-se para isto em “8 Lições da Escola Real”, ao fazer referência à necessidade de reposicionar o foco da escola na aprendizagem. Os demais aspectos são meios para atingir tal fim, e não fins em si mesmos.
Voltou-se ao tema, ampliado, em “10 Medidas Para o Sucesso Escolar” quando se ressaltou ser imprescindível equipar melhor as escolas, com recursos para que os diretores possam cuidar da finalidade, que é o ensino, incluindo troca de experiências exitosas para a aprendizagem, em vez de precisarem mendigar para manter a instituição.

O mesmo se constata no ensino superior, conforme manifestação de Ellis Wayne Brown, vice-reitor da Uniban (Folha de São Paulo 5/03/2010): nos critérios atuais de avaliação, existe uma exacerbada inversão de valor entre meios e fins. No CPC (Conceito Preliminar de Curso), apenas 30% da nota advém da avaliação do conhecimento profissional adquirido. O restante deriva dos conhecimentos gerais e dos meios, e é basicamente com essa nota que se avalia a qualidade da educação, divulgada e exposta massivamente para a sociedade. Assim, os objetivos educacionais a que se pretende atingir ficam subordinados aos paradigmas dos meios.
Se o peso da avaliação é maior nos meios e não nos fins, como deveria ser, é previsível que a escola se preocupe menos com este aspecto. Atitude reforçada por muitos pais e alunos, que, segundo Walter Ceneviva (Folha de São Paulo, 13/12/08), têm sua dose de culpa porque buscam o “canudo” e discutem mensalidades sem questionar a qualidade do ensino.

Considerem-se as fragilidades do ensino básico, já conhecidas, e do superior, que se tornam públicas por meio do provão – hoje Enad, das avaliações profissionais (OAB e Cremesp) e do aumento de escolas nas empresas – 275% em dois anos – com o objetivo de “superar as carências trazidas da graduação universitária”. Visando focar o debate na escola, independentemente se básica ou superior, no ensino e na aprendizagem, formulem-se 5 perguntas básicas:1ª) As competências e habilidades previstas estão sendo selecionadas adequadamente?; (2ª) Há coerência entre estes dois aspectos nos conteúdos trabalhados e nos conteúdos cobrados?; (3ª) Nas avaliações, o registro da aprendizagem permite identificar as etapas que o aluno venceu e as que ainda não venceu?; 4ª) As etapas ainda não vencidas são retrabalhadas imediatamente e com outras metodologias, completando o ciclo da avaliação?; 5ª) Os alunos estão vivenciando e sendo avaliados nos pilares (aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver) que, segundo a Unesco, sustentam a educação?

Se as respostas de diretores, professores e alunos não forem positivas, significa que a instituição escolar relegou o ensino e a aprendizagem ao segundo plano, contribuindo para a reprodução de resultados ineficientes para os alunos, para as instituições e para a sociedade que recebe os serviços.
Aprendizagem baseada em problemas; Instrumento de avaliação que responde as três primeiras perguntas acima; Vivência e avaliação de atitudes; Socorro rápido a alunos com dificuldades de aprendizagem, contribuem para recolocar o ensino no centro das atenções, o que por si só, contribui para a necessária melhora.