Pecado? Não existe mais!

 

O sacramento da penitência é também o da conversão e da reconciliação com Deus do cristão, pecador arrependido, através do perdão da igreja.
 
Em relação à situação atual e à consciência do pecado, pode-se perguntar o que se entende por sentido ou consciência do pecado em si?
 
A psicologia moderna fala da experiência da culpa, própria de cada ser humano, e procura descobrir-lhe o dinamismo interior e individualizar os fatores que estão na sua origem. É verdade que nesta procura podem existir e existem exageros: há certo psicologismo que não deixa lugar à verdadeira responsabilidade da pessoa, pois quer explicar todas as ações e atitudes a partir dos condicionamentos biológicos, do inconsciente ou do ambiente. Chega-se, dessa maneira, facilmente, a falar de “doentes” ao invés de “pecadores”; de “doenças” mais que de “pecados”. O pecado existe, não pode ser negado! “Se dizemos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo, 1,8).
 
É perceptível que a psicologia moderna pode colocar problemas difíceis para a elaboração da teologia do pecado, ou então uma teologia fechada pode requerer para si toda e qualquer resolução inerente à realidade psico-espiritual. A colaboração entre teologia e psicologia, sobre o tema, está apenas em seus inícios – é necessário avançar muito na reflexão, de modo que uma ciência poderá ajudar a outra, mas não simplesmente anular-se mutuamente.
 
Todavia, como conceber o pecado num mundo secularizado ou em via de secularização? Quando a sociedade era permeada de sacralidade, de religiosidade, era mais fácil viver tendo Deus como referência. Toda a vida do grupo social era circundada e repleta de sacralidade, mediante a qual o homem se encontrava em contato com o divino.
 
A sociedade secularizada, ou em via de progressiva secularização, porém, tende a desencantar, dessacralizar a natureza física e os mistérios da vida. Os próprios valores morais e os sistemas de valores não são mais sentidos como reflexo da ordem eterna, como sagrados, mas sim, vividos como fortemente condicionados e mutáveis segundo o ritmo das mudanças socioculturais da história. Essas poucas ideias põem em crise a concepção de pecado.
 
Não é necessário voltar atrás, ser saudosista em relação ao passado, todavia, não se pode também passar a borracha no pecado. Ele existe e apresenta-se em três dimensões: a) como recusa a Deus; b) como recusa aos outros; c) como recusa e negação de si mesmo.
 
A teologia do pecado é animada pela fé: só à luz da palavra de Deus o pecador toma consciência da realidade da sua culpa… O tempo presente, marcado pelo individualismo, capitalismo, cultura pansexual, etc…, não colabora para que cada cristão empenhe-se pessoalmente na superação do pecado… A partir disso, pode-se dizer que o pecador já é penitente quando enfrenta essas barreiras da missão cristã, em busca da conversão, da abertura ao amor de Deus que se estende aos irmãos; de mais a mais, “não há ninguém que não peque” (1Rs 8,46).