Paixão ou sentimento?

A palavra paixão é originária do latim “partire”, que significa “sofrer” no português. Daí deriva a palavra “compaixão”, que lembra o “sofrer com”.
O amor, falando-se a partir do sacramento do matrimônio, não se configura como mero sentimento, afinal “Deus é amor” (cf. 1 Jo 4,16). Assim, amar é muito mais que ter sentimentos por alguém: “Amar é dar a vida” (cf. Jo 15, 13).
Se os sacramentos, e de modo especial o do matrimônio, não forem vividos à luz do Cristo na cruz, à luz do mistério da cruz (um amor que já não é sentimento, mas sim abnegação, misericórdia, oblação…) não se entendeu o que é amar. Na vida matrimonial, experiencia-se um contínuo entregar-se pelo outro. De mais a mais, quando Deus entregou seu Filho único pela humanidade, na cruz, não pediu que cada um entregasse sua vida por Deus, e sim, por Deus nos irmãos e irmãs.

Amar é sempre pedir perdão. No filme Endless Love – Amor sem fim, de 1981, dirigido por Franco Zeffirelli, numa cena se diz que quem ama não precisa pedir perdão. Eis uma frase que vai contra a proposta de Cristo. O pedir perdão é, antes de tudo, ter consciência de que não existe convivência que possa dispensar essa atitude remissiva.
Na atualidade, muitos se casam pelo sentimento, o que vem sendo causa de inúmeros fracassos matrimoniais. É necessário o amor-compromisso, cristão, oblativo, pois, só assim, “o amor jamais acabará” (cf. 1Cor 13,8). E mais, o amor verdadeiro não está pronto, mas está por construir-se a cada instante, a cada dia… O amor cristão não deixa de ser sempre mais atual através da cruz: dela irradia a força para que a casa construída sobre a rocha não desabe.

Um dos pensadores fundamentais do século 20, Martin Heidegger, dizia que se relacionar “é estar no mundo junto de outros”. Assim, também o relacionamento conjugal deve ser visto pela ótica da convivência familiar. Quando homem e mulher casam-se, diz o livro do Gênesis, tornam-se uma só carne, ou seja, não se vive mais apenas para si, mas, de modo especial, para o bem do outro. E, para indicar a força desse ensinamento que também não deixa de ser atual, Martin Buber afirmou que “o ser humano é um ser de relações”. Portando, uma sadia relação que leva ao amor apaixonado, amor doação ao outro, e não a simples sentimentos, é o itinerário que deve perpassar toda a preparação e posterior vivência matrimonial do casal moderno.