O Prêmio Nobel e eu

Conheci e conversei com um vencedor de Prêmio Nobel, há alguns anos. Foi com o escritor peruano Mario Vargas Llosa, que venceu o Nobel de Literatura deste ano.
Em 1995, Vargas Llosa esteve em Porto Alegre para uma palestra e uma sessão de autógrafos. No jornal Zero Hora, de Porto alegre, edição de 9 de outubro de 2010, sábado, estampa uma foto de sua palestra e lá estou eu atento ao que o peruano falava.

Mais tarde, nesta noite, ele faria sua sessão de autógrafos. Eu era na ocasião presidente da Fundação do Sport Club Internacional, e gerenciava sua biblioteca. Então, apanhei todos os livros que tínhamos do autor, eram seis ou sete, e levei ao local do evento, que ficava perto do Beira-Rio.

Quando chegou minha vez na fila, eu descarreguei todos os livros na mesa, e Vargas Llosa se surpreendeu pela quantidade. Então lhe disse que eram da biblioteca de um clube de futebol.
– E um clube de futebol tem biblioteca? – ele me perguntou.
– Tem – respondi. – E são 50 mil volumes.
– Caramba! Creio que no Peru não existe uma biblioteca deste tamanho.
– É do Sport Club Internacional. E daqui a pouco vai ter jogo. Daí eu vou direto para lá.
– Ah, sim. Eu passei por um estádio todo iluminado, e perguntei ao meu acompanhante o que era. Se eu tivesse tempo iria ver a partida, pois me gusta ao futbol.
Quando ele viu todos os sete livros sobre a mesa, e olhando a imensa fila que o esperava, ele me disse: – Vou autografar um só livro, os demais só vou rubricar, com o que concordei.

Vargas Llosa é, junto com o colombiano Gabriel Garcia Marques, os maiores escritores da língua espanhola. Além de escritor, é um pensador profundo de tendência liberal. Teve uma experiência eleitoral se candidatando à presidência do Peru, mas perdeu para o corrupto Fugimore, que hoje está preso, ou, no mínimo, condenado.

Seu melhor livro, na minha opinião, e a de muitos, é Pantaleão e as visitadoras. É um delicioso romance no qual um capitão de exército, tecnocrata e prepotente, é convocado para resolver o problema dos soldados na selva amazônica, infelizes pela falta de mulheres. O capitão faz inúmeros cálculos: considera a frequência e a duração, em minutos, que deve durar um encontro amoroso. Assim organiza um esquadrão de mulheres que ele chama de ‘visitadoras’. No fim, ele acaba se apaixonando por uma delas, e o programa vai por água abaixo.

A rigor, tive um outro evento envolvendo outro Nobel. Estava esperando para assistir uma palestra do português José Saramago, que mais tarde se tornaria vencedor do Nobel, também de literatura, quando um senhor com um livro do Saramago me pediu para autografar, confundindo-me com ele. Não gosto da literatura do Saramago, muito expandida e detalhista, e esclareci. Mas, se me confundissem com Mario Vargas Llosa, acho que autografaria, orgulhoso e envaidecido.