O mundo depois de Watt

Afirmei num artigo anterior que “o mundo, como o conhecemos hoje, começou a existir no dia 12 de outubro de 1492, quando o navegador Cristóvão Colombo descobriu a América”. Eu poderia repetir a mesma frase com um final diferente e, ainda assim, mantê-la historicamente verdadeira: “o mundo, como o conhecemos hoje, começou a existir em 1763, quando o engenheiro James Watt descobriu a máquina a vapor”. Isso porque ambas afirmações são verdadeiras, uma válida em termos geopolíticos, a outra, do ponto de vista tecnológico.

Não é exagero afirmar que esse escocês, nascido em 19 de janeiro de 1736, foi o responsável pela Revolução Industrial, pois foi a partir da sua invenção que tudo o mais, em termos industriais, desenvolveu-se.

A lenta evolução do homem deu saltos quando poliu a primeira pedra, acendeu o primeiro fogo, domesticou os primeiros cães e cavalos, construiu o primeiro sistema de arco e flecha e fez a primeira roda. A máquina a vapor está nesse restrito elenco das grandes invenções humanas.

Para se ter uma idéia de como a sua descoberta era avançada e sofisticada para a época, basta dizer que os motores ainda hoje em uso, decorridos 245 anos, são muito semelhantes ao desenvolvido por ele, com condensador, caixa de distribuição e sistema biela-manivela, para obter o movimento rotativo a partir do alternado.
Prova de sua importância na conformação dos tempos modernos, a unidade de potência de energia foi chamada de “watt” em sua homenagem.

Em 1784, ele próprio desenha uma locomotiva a vapor e utiliza pela primeira vez o termo cavalo-de-força (horse power). Decorrido um quarto de século, ainda hoje, quando dizemos que um carro tem tantos HP, estamos repetindo a expressão horsepower criada por Watt – como o seu motor substituía os cavalos, a potência era expressa pelo número de cavalos que podia substituir, para dar aos compradores uma ideia de sua capacidade.

A história de sua vida é um belo estímulo a todos aqueles que não se enxergam como especiais, geniais nem capazes de realizar algo de grandioso ou, simplesmente, valioso. Tímido, inseguro, de saúde frágil, Watt nunca foi uma criança prodígio. Não conseguiu frequentar a escola primária, tendo aprendido a ler e a escrever, além dos princípios básicos da aritmética, em casa, com os pais. Suas experiências eram feitas sempre à noite, porque durante o dia trabalhava para manter a família.

O ensino universitário é fundamental para o destino de potência a que o Brasil está fadado e imprescindível na formação de determinadas carreiras. A essa usina de conhecimentos agregam-se outras fontes de resultados. Muitos deles oriundos dos CCQs (Círculos de Controle da Qualidade) das empresas, das escolas técnicas ou, ainda, de revolucionários projetos desenvolvidos por jovens ousados, em simples garagens.

Longe do excessivo bacharelismo que, há décadas, deforma o nosso cenário educacional, esse escocês que mudou o mundo foi muito mais um prático e intuitivo do que um acadêmico ou um teórico dos nossos meios acadêmicos.
Como dizia o poeta alemão Goethe: “Cinza é a teoria, verde é a árvore da vida”.