O morismo na trilha lamacenta do messianismo político

Víctor Daltoé
Bacharel e licenciado em Geografia / UFSC

As revelações recentes, ainda a serem investigadas, sobre o ex-juiz Sérgio Moro iniciaram a corrosão da torre de marfim de sua reputação. Há meia década o ex-magistrado foi alçado a um dos postos aparentemente mais gloriosos da justiça e da política nacional, blindado por todos os lados, culminando na sua nomeação a Ministro da Justiça no governo de Jair Messias Bolsonaro. Porém, a atual possível derrocada de Moro pode ser a decadência de mais um dos que venderam sua imagem como salvadores da pátria a milhões de crentes fervorosos. 

Na história política brasileira, não faltaram personagens que venderam sua imagem como santos milagreiros, reunindo exércitos de milhões de devotos. Em seus discursos e sua prática, afirmavam que iriam extirpar uma série de verdadeiros problemas nacionais, mas acabavam subvertendo o Estado de direito e a democracia em nome disso.

Em nome da igualdade social, os governos petistas agrediram vastamente alguns pilares do Estado brasileiro, mergulhando-se lentamente no famoso mar de lama da corrupção. Em nome da segurança pública e de uma série de reformas que, em tese, o governo está disposto a cumprir, Bolsonaro constantemente emite sinais de que pouco está se importando com a constituição, lançando ataques quase diários ao Congresso Nacional, o qual é, em uma democracia, o filtro entre o poder político e as vagas explosivas da opinião pública. Lula e Bolsonaro são tratados pelo seu rebanho, ambos, como salvadores da pátria. Mas são ambos desgostosos de uma mentalidade democrática. São binários e estreitos.

Os fiéis à Operação Lava-Jato e/ou de seu principal expoente, Sérgio Moro, também chamados de moristas, espantam pela semelhança com lulistas e bolsonaristas. Em nome do combate à corrupção, há meia década agridem a constituição e o Estado democrático de Direito brasileiro, mordiscando-a com vasto apoio popularesco. Em uma democracia, nem o combate à corrupção, nem a busca da igualdade social, nem uma total segurança pública, podem se tornar motes que permitem que a lei seja descumprida em seu nome. O Estado democrático de direito se baseia num sistema de pesos e contrapesos que impeçam não apenas o poder autocrático de um governante, mas também as ondas violentas da vontade popular.

Lula, Bolsonaro e Moro não entendem isso. São vistos pelos seus cegos seguidores como Messias. E, pelo visto e lido, os moristas fervorosos seguem a mesma trilha sinuosa e lamacenta na qual seguem petistas e bolsonaristas. Ao fim, acabam todos atolados, ajoelhados diante de um santo de manto rasgado.