O advogado Marcio Luiz Ghisi

No Fórum da Justiça Trabalhista da avenida Expedicionário José Pedro Coelho, tem uma sala de trabalhos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que leva o nome do advogado Marcio Luiz Ghisi. Na parede, uma fotografia do mesmo com o seu traje de formatura.

Conheci o Marcio em 1955, quando, após o exame de admissão, entramos para a primeira série do ginasial no Ginásio Sagrado Coração de Jesus, que antecedeu o nosso Colégio Dehon. Eu na série A, ele na série B. Questão de divisão de séries por ordem alfabética. Fomos adversários no futebol em função disso, mas tivemos a mesma formação na educação patrocinada pelos padres da SCJ. Entretanto, no auge da política partidária, fizemos parte do time da União Democrática Nacional (UDN) contra o time do Partido Social Democrático (PSD). Naquela época, até time de futebol se fazia inspirado na ideologia daqueles partidos. Aí formamos uma dupla de zaga relativamente eficiente. O Márcio era tipo Bellini, jogo duro sem muita beleza mas de muito respeito.

O Rogério Duarte de Queiroz fundou um jornal dos estudantes do Ginásio com o nome de “O Líder”. Foi estudar em Florianópolis deixando a responsabilidade do mesmo com o Márcio que continuou a obra. Fui convocado por ele para fazer a parte de esportes durante um bom tempo.
Em 1962, já estávamos em Porto Alegre para vestibular na UFRGS junto com o Mário Simon. Morávamos na rua Marechal Floriano, atrás do Cine Continente e em cima do Bar Montanhez para quem viveu aquele tempo. Não fomos bem sucedidos no primeiro vestibular (Mário na medicina, Márcio no direito e eu na engenharia).

Na segunda tentativa, o Márcio foi para a Faculdade de direito de Passo Fundo, o Mário para a medicina de Pelotas e eu passei na Escola de Engenharia de UFRGS. Restaram as lembranças do “filé a cavalo” e do “taça-pão-manteiga” do Bar Montanhez bem como as sessões de músicas clássicas de um amigo que morava na avenida Independência, onde íamos nos sábados à noite, tomando o bonde (muito comum naquela época) da Assis Brasil. Possuidor de uma voz grave muito forte (gostava de imitar um tenor), o Márcio, na volta, de madrugada, emitia seu vozeirão nos corredores do prédio, ainda inspirado nas músicas que tínhamos ouvido na casa do nosso amigo, que gostava, também, de algumas “bramas”. A vizinhança ficava aterrorizada.

Em 1968, voltamos para a nossa terra. Ele advogado, eu engenheiro de minas. Iniciávamos nossas atividades profissionais. No dia 13 de dezembro de 1973, recebi na mina de fluorita onde trabalhava, em Morro da Fumaça, a notícia de seu falecimento em um acidente automobilístico na então BR-59, hoje a nossa BR-101, nas proximidades da cabeceira sul da ponte de Cabeçudas. Foi truncada, seguramente, uma brilhante carreira de advogado ou de extraordinário político do sul do estado. Restou-me tão somente o pezar transmitido à sua mulher Maria Aparecida, a quem ele tanto se referia na nossa convivência em Porto Alegre, quando namorada.