Num mundo de contos de fada renovado, um novo direito

 

Cada vez mais as princesas dos contos de fadas deixam sua posição submissa e boazinha, de belas e doces mocinhas, para assumir um papel atuante em suas próprias vidas… Começou com Shrek, que inverteu totalmente o conceito de beleza relacionada à bondade, fazendo com que o público torcesse para que ambos Shrek e Fiona se tornassem ogros. Depois foi a vez de Rapunzel, em Encantada, transformar-se de menina meiga e indefesa, incapaz de brigar com a tirana bruxa que lhe trancou na torre, virar o jogo e ela mesma lutar contra mal, usando a própria cabeleira como arma secreta; de príncipe, o herói da história torna-se ladrão e como a mulher do futuro, deve torna-se biônica e perfeita ele muda de vida por Rapunzel. 
 
Agora, mais recentemente, é a vez de Branca de Neve trocar seu figurino, troca de figurino porque suas roupinhas meigas e suaves de camponesa boazinha já não mais combinam com esta nova branca de neve, capaz de desbancar qualquer super-herói do passado, os bondosos anõezinhos são também ladrões e Branca de Neve, ah, claro, faz com que sete pequenos anõezinhos se tornem os heróis da criançada moderna, o príncipe possui um lado bom e um ruim, como sempre, mas vai lutar junto de sua princesa contra os males de seu reino.
 
Certamente, os leitores estão pensando que discutir contos de fadas seria um bom papo para seus filhos, netos, sobrinhos ou simplesmente ninguém, mas é através da leitura destes contos de fadas que saberemos como serão as crianças do futuro, o que esperam elas de seus homens, mudá-las para sempre, livrá-las de todos os males e afastá-las das rainhas más que lhe encantam? Lutar acima de qualquer coisa ou pessoa por seus ideais? Deixar os trajes de camponesas e vestir roupa de guerreira?
 
A mulher do futuro é diferente de nossas mulheres do passado, as princesas da geração que passou buscavam um homem perfeito que vinha em cavalo branco, lutava sozinho pelo casamento, beijava a noiva e então ambos eram felizes para sempre. Esta geração que buscava o homem perfeito está aí criando suas crianças sozinhas, virando-se nos trinta para trabalhar, sustentar a casa e ainda dar amor às crianças, mas incapaz de conceber que possa lutar junto, ou ele luta por todos ou ela luta sozinha. Para esta geração, nós já temos leis, temos guarda compartilhada, aprendemos a pensar no que é certo ou errado em relação à divisão de bens e estamos criando advogados de família experts em separação e guarda.
 
Mas, será que no futuro haverá tantas separações, já não se promete mais as crianças a felicidade eterna, nem muito menos um príncipe sem defeitos, está claro para as crianças que serão os adultos de amanhã que terão de brigar, inclusive por seus príncipes, e que não será ou eu sozinha ou ele sozinho, mas o casal, juntos, lutando contra todo o mal que lhes possa vir. Será que então estamos falando em um novo direito? Em uma nova instituição de casamento? Será que seria muito ousado dizer que talvez no futuro tenhamos mais casais do que temos agora? Ou será que as novas gerações vão esperar mudar demais seus parceiros e tudo continuará como está?
 
O bem não é mais algo absoluto, há em cada herói das histórias um lado mal e perverso, a mídia da modernidade está fazendo crianças ao mesmo tempo boas e más, que sabem e entendem que não são sempre absolutamente perfeitas e que sempre há o que melhorar no ser humano.
 
Assim, também os bandidos e ladrões do futuro podem ter uma nova roupagem, os novos juízes, advogados e promotores deverão vestir nestas novas gerações nova roupa também, menos donos da justiça e do direito, o bem absoluto na batalha contra o mal, certos de uma briga por justiça, mas muito mais humanos, reconhecendo que são falhos e que têm um lado tão ruim quanto aqueles a quem julgam. Será que então faremos uma justiça mais justa e melhor? Ou que vai haver uma inversão total e completa dos fatos e já não mais saberemos reconhecer o certo e o errado nas futuras gerações?
 
Advogados, juízes, promotores, estudantes de direito… Agora é com vocês, está na hora de parar e pensar em como ficará o futuro do direito diante destes novos contos de fada. Diante de uma geração em que não espera um príncipe pronto, nem se acha bom ou mal simplesmente. Vai esperar ver para crer? Ou vai refletir, pensar e tentar apresentar novas soluções para esta nova geração?