Na Itália, as eleições também são dramáticas

Víctor Daltoé dos anjos
Bacharel em Geografia/UFSC
victordaltoe@gmail.com>

As recentes eleições legislativas na Itália significaram um novo tremor na série de terremotos que vêm sacudindo a placa tectônica da União Europeia. A saída da Grã-Bretanha do bloco, as investidas dos partidos nacionalistas extremistas na França de Le Pen e na Alemanha da AfD, além da eleição de governos de extrema-direita na Áustria e na Hungria, tem ameaçado o bloco europeu de se estilhaçar em antagonismos internos e líderes nacionalistas. Agora é a vez dos italianos encenarem seu drama.

A Itália foi um dos pilares da ordem e do progresso europeu no pós-2ª Guerra Mundial. O primeiro-ministro Alcide De Gasperi, nos anos 50, foi um dos arquitetos da União Europeia (EU) e um dos inspiradores da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948. Além disso, a ascensão da Democracia Cristã e a aproximação dos partidos Socialista e do Comunista com o centro conseguiu que a Itália passasse pelos turbulentos anos 1970 imune. Naquela década grupos terroristas de esquerda e direita sacudiram os esqueletos do país, mas o governo conseguiu desmantelá-los sem ameaçar o Estado de direito.

Entretanto, nos anos 1990, o sistema político italiano explodiu pelos ares com o ímpeto vulcânico da operação Mani Pulite (“Mãos Limpas”). Essa denunciou o envolvimento de todos os principais e grandes partidos em extensos e refinados esquemas de corrupção. Nenhum deles sobreviveu. Dos escombros da política sepultada emergiu o populista milionário Silvio Berlusconi, que se tornou a figura dominante na tragicomédia política italiana no que sobrou dos anos 1990 e nos anos 2000. Nesse período, o país não realizou as reformas liberais que a Alemanha se esforçava em realizar para dinamizar sua economia, o que resultou em vantagens para os alemães enquanto a Itália ruía com a crise de 2008. Berlusconi ruiu junto.

Agora, os italianos se deixaram cativar em massa pela direita populista, anti-imigração, anti-UE e contra as políticas liberais exigidas por esse bloco. Com a formação da coalizão entre o Movimento 5 Estrelas e a Lega Nord, com Berlusconi desfilando novamente, o Mediterrâneo voltou a ser o inferno para imigrantes que navegam na direção da península itálica, e a fumaça da xenofobia voltou a apontar no céu que arranha o Vesúvio. Os italianos, assim como os ingleses e outros, também estão arrebentando as pontes com a Europa e se ilhando na torre de marfim do nacionalismo. A situação política na Itália é dramática. Sempre.