Ideb: Caminhos ou atalhos?

Os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), publicados na primeira semana de julho deste ano pelo Ministério da Educação, possibilitam, dentre outras, três constatações que, se trabalhadas, contribuirão para avançar na melhoria da qualidade do ensino.

A primeira delas é que os alunos, em 2009, obtiveram melhor classificação que em 2007, mas incrivelmente menor que em 1995, quando iniciaram-se as aferições, feitas a cada dois anos. Observe-se, contudo, que a maior nota não significa maior aprendizagem. Vale ressaltar que, a partir de 2005, além da nota da prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), as taxas de aprovação também são consideradas.

Outra, é que, como se sabe, alguns governos estaduais e municipais vêm adotando medidas para que estas taxas aumentem sem que ocorra, de fato, mais aprendizagem. Assim, os alunos, até determinada série do ensino fundamental, não reprovam. Adotam-se, ainda, fórmulas que criam facilidades, tal como a do estudante com menor média anual precisar de menor nota na prova final para passar de ano. Nestes casos, conforme referência anterior, maior aprovação – que leva a melhor classificação no Ideb – não significa maior aprendizagem, que é o que realmente conta.

A terceira infeliz constatação é que muitas escolas ainda não aprenderam a trabalhar com a diversidade. Faz-se necessário frisar também que a queda nas taxas de aprovação, a partir de 1995, coincide com o acesso à escola dos contingentes mais pobres da sociedade, notadamente detentores das menores condições socioeconômicas e familiares.

Os números do Saeb, por resultarem apenas de provas – em que pese o valor relativo das notas nelas atribuídas -, retratam melhor o que de fato os alunos aprendem.
A única nota de 2009 (204 pontos, dos 500 possíveis) maior que a de 1995 (181) ocorreu em matemática, na 4ª série do ensino fundamental. Em português, na mesma série, o aproveitamento ficou 4 pontos abaixo: 184 em 2009 e 188 em 1995. O Ideb apresentou o maior avanço nesta série: 0,4 ponto, quando comparados os anos de 2007 e 2009.

No tocante à 5ª a 8ª série, o decréscimo ocorreu tanto em matemática (4 pontos: 253 em 1995 e 249 em 2009) quanto em português (12 pontos: 256 em 1995 e 249 em 2009). O Ideb apresentou, nesta série, crescimento de 0,2 ponto entre 2007 e 2009.
Já no ensino médio, os alunos tiveram as maiores perdas nas duas disciplinas. Em matemática, 7 pontos (282 em 1995 e 275 em 2009) e em português 21 pontos (290 em 1995 e 269 em 2009). Nesta faixa, o Ideb apresentou crescimento de 0,1 ponto entre 2007 e 2009.

Quando se reduz o comparativo de 2009 ao de 2007, tanto o Ideb quanto o Saeb apresentaram crescimento em todas as séries. No entanto, se compararmos apenas as notas do Saeb, conclui- se que o maior desafio da educação básica brasileira é alcançar o que já foi em 1995 e ultrapassá-lo.

Os caminhos são conhecidos: investir no professor (financeira e intelectualmente) e, dele, cobrar resultados; ampliar o tempo de permanência dos alunos na escola; sustentar a educação nos quatro pilares recomendados pela Unesco; e atrair a participação dos pais para a escola, entre outros. O problema é quando se opta pelos atalhos que já se revelaram desastrosos.