Estelionato na saúde pública

A criminosa história do médico flagrado cobrando serviços prestados através do SUS em Florianópolis não é nova, pois ele não é o único. Mas me causa indignação não só pelo fato em si, mas porque nada é feito para mudar este estado caótico da saúde pública brasileira.

Não falo da boca para fora, pois minha mãe precisou colocar uma prótese no joelho e, como era urgente, pois ela não aguentava mais a dor e, consequentemente, não podia mais andar, aceitou pagar, para o médico, R$ 2,5 mil. Apesar de a cirurgia ter sido feita pelo SUS, há cinco anos. O valor, cobrado a título de “assistência médica futura”, subiu para R$ 6 mil, em ela precisando, agora, colocar prótese no outro joelho.

Voltando ao caso atual, o que me deixa mais indignado é que, apesar de flagrado em plena cobrança “indevida”, pois os exames pelos quais o médico recebeu R$ 3,4 mil foram realizados pelo SUS, o médico foi apenas “afastado do cargo”.

O roubo documentado virou “obtenção de vantagens próprias por meios indevidos”. E não se fala em prisão, em devolução do dinheiro roubado, nada.
O flagrante comprovou apenas um dos roubos do médico – desse médico. E os outros? Ou vamos concluir que ele praticou apenas aquele roubo mostrado na televisão e na internet para o país inteiro?

O que vimos é estelionato, é roubo na sua forma mais vil. E precisa se tratado como tal. Instauraram um inquérito policial, mas o médico ladrão responde processo em liberdade, pois o delegado acha que “não há motivos para prendê-lo”. O cidadão roubou, já devia ter sido preso e, além de qualquer outra condenação, devia devolver todo o dinheiro roubado daquela paciente que vimos e de todas as outras.

Que mais pacientes denunciem outros casos, que sabemos, existem. Porque hospital público, além de lugar para se mendigar e ter negada assistência médica e até morrer na porta sem atendimento, também é lugar para sermos assaltados e roubados.