Ensino que, de fato, ensine

Maurício da Silva
Mestre em educação

A nova versão da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) entregue pelo Ministério da Educação ao Conselho Nacional de Educação, em abril de 2017, constituirá, se implementada, apenas um dos aspectos para que o Ensino brasileiro, de fato, ensine.

O Ensino no Brasil pouco ensina. No PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Alunos), o Brasil ficou na 59ª posição entre 70 países avaliados e, na Prova Brasil 2015, apenas 30% dos alunos que concluíram o Ensino fundamental “aprenderam o adequado” em Português e 14% em Matemática. O Ideb não serve como referência, porque é inflado artificialmente, como demonstrei em diversos artigos.

A BNCC apenas define o que e como ensinar, para que se evite a continuidade de absurdos como o fato de alunos de uma mesma série, na mesma escola, mas em turmas diferentes, estudarem conteúdos completamente discrepantes. Oportuniza, portanto, que professores e pais saibam o que cada aluno tem o direito de aprender e a escola tem compromisso de ensinar nas diversas fases da formação.

Erick Hanushek, doutor em economia pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e professor da Universidade Stanford, cunhou a expressão ‘bagunça curricular’ ao constatar que “nove entre dez alunos de escolas públicas não cumprem o currículo previsto, e outros da mesma série, mas de classes vizinhas estudam conteúdos diferentes durante o ano” (Revista Exame – 20/10/2010).

O cenário é de gravidade tal que, em palestras para professores, diante dos resultados comprometedores da Prova Brasil, acima mencionada, pergunto-lhes: Os alunos não aprenderam o que lhes foi ensinado ou não lhes foi ensinado o que (conteúdos) e como (forma) ‘cai’ na Prova Brasil (que é elaborada pelo Ministério da Educação)?

Sob este prisma, na Prova Brasil, o contexto dos alunos brasileiros pode-se comparar ao do atleta que se prepara, treinando natação e, no dia da Olimpíada, compete na modalidade ‘salto com vara’. Vai ter péssimo desempenho, com certeza.

A correção desta anomalia, dentre outras medidas, levou a Gerência regional de Educação (Tubarão-SC), a conquistar, em 2005, “IDH-Educação”, acima da média estadual. Organizaram-se os conteúdos de todas as disciplinas e séries. Em seguida, criou-se instrumento de avaliação que permite a professores, alunos, pais e direção verificarem se tais conteúdos e atitudes estão sendo trabalhados e coerentemente “cobrados” bem como as respectivas etapas que o aluno venceu e aquelas que ainda não conseguiu, para serem retrabalhadas imediatamente e com outras metodologias.

Este é, contudo, apenas um dos aspectos para que o Ensino, de fato, ensine. Urge também: valorizar o esforço, tornar eficaz o reforço, mudar a concepção e prática avaliativa, orientar ou acionar a participação pedagógica das famílias, resgatar financeira e pedagogicamente o professor, controlar os indicadores educacionais e reconhecer os que se superam.

Não se fez aqui alusão a acesso e permanência dos alunos na escola nem às consequências para a sociedade quando não são cumpridos.