É possível romper o ciclo da pobreza e da criminalidade

Participando do Conae 2010 (Conferência Nacional de Educação), etapa municipal de Tubarão, sugeriu-se medida que romperá, a curto prazo, com o ciclo da pobreza e da marginalidade.

Trata-se de oportunizar educação infantil de qualidade em tempo integral para todas as crianças. Além da proteção no sentido amplo, esta etapa da escolaridade estimula, na idade adequada, as habilidades e competências cognitivas relacionadas ao sucesso escolar e profissional, supre as carências de espaços públicos para prática do esporte, do lazer e da cultura, que também são excelentes estimuladores, e a ausência dos pais na educação dos filhos, mesmo quando presentes. Sem deixar de cobrar, evidentemente, as responsabilidades destes e dos administradores públicos.

As consequências da ausência destes bons incentivos na primeira infância (motivação, comportamento social, autocontrole, lógica, abstração etc.) já são conhecidas, mas agora estão mais claras (mau desempenho e evasão escolar, envolvimento com drogas, gravidez na adolescência, criminalidade…) e melhor fundamentadas cientificamente:
1) Tentar sedimentar, num adolescente, o tipo de conhecimento que deveria ser apresentado a ele, dez anos antes, sai 60% mais caro e é menos eficaz, ensina o economista americano James Heckman;
2) Excesso de TV e internet na infância aumenta o risco de vida sexual precoce, abuso de álcool, fumo e droga, além de obesidade (Universidade de Yale);

3) Crianças que vivem longe de áreas verdes tendem a engordar mais do que as que moram próximas de parques ou praças (Escola de Saúde Pública da Universidade de Washington);
4) Em comparação com meninos e meninas ricos, crianças pobres demonstram, em testes com neurocientistas, menos atividade no córtex pré-frontal – área do cérebro relevante para a criatividade e solução de problemas -, o que se traduz em limitação, muitas vezes, para sempre, do aprendizado (Instituto de Neurociências Helen Wills da Universidade da Califórnia);

5) O problema não é necessariamente a pobreza, mas o precário estímulo lúdico no ambiente em que vivem (Thomas Boyle). (Dimenstein, Folha de São Paulo, 07/12/08).
Esta medida significa: a) antes, romper a perversa estrutura educacional brasileira, geradora das desigualdades educacionais e, consequentemente, sociais, ao financiar o ensino superior gratuito para quem pode pagar, salvo raríssimas exceções, enquanto milhares de crianças (22%, de 4 a 6 anos), em especial as mais pobres, estão fora da educação infantil por falta de vaga; b) depois, salvar o futuro de milhares de jovens e do próprio Brasil que, sem esta premissa, prosseguirá às margens da economia global. Espera-se, portanto, que a sugestão passe pelas conferências regionais, estaduais, nacional, no próprio congresso nacional, torne-se lei e de fato cumpra-se, sem as desculpas de sempre.