É possível piorar?

Infelizmente, o ano letivo iniciou com notícias nada animadoras. O quadro geral do ensino, no tocante à qualidade, que não é bom, pode piorar se medidas urgentes e adequadas não forem tomadas. Não havíamos nos recuperado da péssima constatação feita pela Capes (órgão do Ministério da Educação responsável pela formação dos professores), dando conta de que 300 mil professores lecionam em áreas para as quais não foram formados, o Censo do Ensino Superior acaba de divulgar que o país forma cada vez menos professores.

Comparando o ano de 2007 com o de 2006, foram 4,5% professores a menos, e com 2005, 9,3%. As maiores quedas entre 2006 e 2007 foram nas disciplinas de Ciências Sociais (-17%), Letras (-10%), Geografia (-9%), Química (-7%) e Filosofia (-5%). A única boa notícia é que, no ensino infantil e de 1ª a 4ª série do fundamental, os formados em pedagogia aumentaram 6,8%.

Como o país vai superar o gravíssimo problema da qualidade do ensino – nossos alunos são os piores nos rankings internacionais – Pisa, se o principal agente de mudança, o professor, está em falta e pode diminuir? As medidas divulgadas pelo MEC (expansão de universidades federais, criação de institutos tecnológicos de educação, capacitação de professores em parceria com alguns estados) são tímidas e, apesar de exigirem grande aporte de recursos financeiros, não atingirão o núcleo do problema.

É preciso um esforço hercúleo de toda a sociedade para profissionalizar de vez o magistério: 1) melhorando os salários e vinculando-os ao mérito, aferido por avaliação, que permite também apontar distorções a serem sanadas através de capacitação focada; 2) motivando famílias e instituições a atuarem fortemente no desenvolvimento e no cultivo de valores, no estabelecimento de limites e de punição, quando necessária, para que o professor não tenha a sua dignidade constantemente aviltada pelo desrespeito e pela violência intra e extraescolar.
O Brasil e a sociedade não podem continuar marcando passo por conta de políticas desfocadas, apesar de onerosas, numa área tão vital para o desenvolvimento sustentável e para a superação das desigualdades sociais, como é a área da educação.