Dos desastres naturais

 

Não há como não nos sensibilizarmos com os desastres naturais a que temos assistido pelo mundo afora, agora especialmente em nosso país e no caso dos catarinenses – já tão traumatizados com esses eventos. Pois bem! Passados os impactos iniciais de cada catástrofe, começa a caça aos culpados. Em geral, toda a responsabilidade é atribuída ao governo e aos políticos, alvos cotidianos das críticas de qualquer natureza, embora eleitos sistematicamente por todos. Não é possível saber se é a mídia que reproduz a opinião da população ou é a população que responde aos estímulos da mídia, ou ambos. Não importa! O que importa é que, na verdade, todos – o povo, seus representantes e a mídia – têm a sua parcela de culpa pelo que vem ocorrendo.
 
Os governos municipais toleram a ocupação em locais inadequados e o uso desordenado do solo urbano e rural, por não se instrumentalizarem com os recursos técnicos hoje disponíveis, por não implantarem o planejamento urbano preconizado nos Estatutos das Cidades. Os governos estaduais não dão o apoio técnico e financeiro necessário para as políticas de desenvolvimento sustentável em cada município, para a informação e capacitação da sociedade na prevenção e defesa em casos de desastres naturais. O governo federal também tem sua responsabilidade em relação às políticas de habitação, saúde, educação, segurança, assistência social, saneamento e mobilidade urbana.
 
Todas essas carências induzem à ocupação de áreas de risco, sujeitas a sofrerem mais com as catástrofes, e o ciclo vicioso está estabelecido. Essas concessões podem até atender aos interesses populares mais imediatos (e são, por conseguinte, altamente eleitoreiras), mas comprometem um futuro com qualidade de vida. Essa “tolerância” do poder público fica, de certa forma, “negociada” (veladamente), na maior parte das vezes, quando se vota nos gestores públicos – desde os vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores ou presidente – porque burlaram as leis, deram um jeitinho, trocaram por algum benefício ou promessa – ou qualquer outra vantagem política pessoal ou coletiva…, quando o critério não é a competência, a seriedade, o projeto e a capacidade de realizar o que for melhor para todos. O fato é que governos e governantes fortes não permitem ocupações em locais de risco, e sociedade organizada e participativa não tolera a falta de planejamento e a falta de ações que, efetivamente, promovam a vida.