Dia Nacional da Consciência Negra

20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra – em homenagem a Zumbi dos Palmares, assassinado em 1695, por comandar a resistência à escravidão através dos quilombos. Foco as reflexões desta data no casal Michele e Barack Obama e nas atrizes Taís Araújo e Camila Pitanga, ou seja, na autoestima dos afrodescendentes.
Livres das algemas, do trabalho forçado e do açoite, em 1888, mas sem qualquer bem material para prosseguirem suas vidas, os afrodescendentes continuam a luta para se libertarem do preconceito, que: a) nega-lhes oportunidades para melhorarem suas próprias vidas e de suas comunidades; b) rotula-os como incapazes, embora a ciência e, mais recentemente, o excelente desempenho dos alunos negros, cotistas nas universidades, provem o contrário; c) atinge-lhes a autoestima, fazendo com que não acreditem em si mesmos e nos semelhantes.
Tal visão distorcida faz parecer que nada lhes é possível, colocando-os como se tivessem que ser eternamente servis. Assim como no sistema de castas, mostrado na novela Caminho das Índias, onde quem nasceu “dalit” terá que sê-lo pelo resto da vida, inclusive seus descendentes, não admitindo a mobilidade social, cada vez mais frequente nos discursos e menos praticada. E foi este o sonho pelo qual Zumbi e seus comandados lutaram até a morte.
É esta a razão da contraofensiva dos negros americanos que criaram, na década de 60, o movimento “black is beautiful” (preto é bonito). Os afrodescendentes querem tão somente ser “avaliados pelo caráter e não pela cor da pele”, como conclamou Martin Luther King Junior, também assassinado pela causa.
O sentimento de inferioridade, de não belo e de impedimento absoluto é reforçado quando não veem os seus semelhantes protagonizando espaços importantes na sociedade. Michelle e Barack Obama, Taís Araújo e Camila Pitanga quebram esta nefasta percepção, lançam luzes, ainda que tênues, neste arraigado e obscuro universo desmedidamente injusto. Mostram, afinal, ser possível afrodescendentes formarem o primeiro e mais poderoso casal do mundo e protagonizarem novelas globais, inclusive duas, simultaneamente.
Aliás, o mote de campanha do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, país mais poderoso do mundo que, ao libertar os escravos, institucionalizou o ódio racial, foi “Yes, we can” (Sim, nós podemos).
É evidente que tão merecida possibilidade precisa ser construída com: a) luta por melhor qualidade de ensino e saúde para todos; b) persistência; c) encaminhamento à justiça dos atos de racismo; d) resgate da cultura afro, incorporada aos costumes hodiernos da população brasileira, mas forçadamente sincretizada; e) resgate da história com aplicação da Lei Nacional 10639, fazendo contraponto entre “liberdade dada” pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888 e que paternaliza e acomoda, e liberdade “conquistada” a custo da vida de tantos mártires, da campanha abolicionista e, principalmente, pela conjuntura econômica (Revolução Industrial), que exigia mercado consumidor – impossível para os escravos, porque não tinham renda.
“A paz é fruto da justiça”, da superação das desigualdades sociais, da tolerância…”.