Crônica de uma noite não dormida

3 de dezembro de 2010. Duas da manhã. Após corrigir os trabalhos dos alunos, ponho as notas no sistema e vou para cama. Não consigo dormir. O barulho lá fora é infernal. Música em alto volume vem do restaurante próximo, misturada com buzinas, gritaria, derrapagem de pneus e descargas a toda. Levanto e vou para a sacada. Na frente do estabelecimento, dois motoqueiros esganiçam suas máquinas sob aplauso e admiração dos frequentadores. Veículos estacionam na calçada, outros na contramão. Pessoas entram e saem portando copos. O diálogo é sublime, aos berros, para não falar no português corrompido. Um automóvel avança o sinal torrando os Firestones. Outro para e acompanha a música local com a buzina.

Três da manhã. A farra continua. Um idiota fura o sinal e entra zunindo na ponte Dilney Chaves Cabral. Outro imbecil passa com um carro sonorizado, daqueles que estragam nossas praias. Passa com o volume no máximo. A música é uma delícia: tchum! tchum! tchum! tchum! Até balança o pé-de-borracha. A gritaria e o fundo musical continuam. Em frente ao negócio, encachaçados cambaleiam entre os carros. Moças bonitas conversam aos brados. Lembram personagens de filmes de terror classe B. Mais um veículo fura o semáforo e entra na Lauro Müller, na contramão. Buzina pedindo passagem. Dá para ouvir as gargalhadas dos ocupantes. Ligo para o 190. O policial diz que mandará verificar.

Quatro da manhã. Tudo igual. Buzinaço. De repente, dá uma acalmada. A polícia passa, olha, verifica e parte. Mal saem da vista e o mesmo idiota que furou o sinal retorna pela ponte Dilney, na contramão. Na frente da sonora taverna, duas Barbies de academia, visivelmente emborrachadas, trocam ameaças verbais. Dá em nada. Chegou a hora da quebra de copos e garrafas na calçada.

Cinco e onze da manhã. O som foi desligado, o movimento está acabando. Pardais e corruíras anunciam o novo dia. Não consigo dormir. Tenho que corrigir mais trabalhos e preparar prova para a noite. Talvez dê uma cochilada lá pelas onze da manhã até o almoço. À tarde, vou trabalhar no escritório da universidade até as seis. Voltarei para casa e em seguida irei para a aula. Hoje tem prova. Devo retornar lá pelas dez e meia ou assim que os alunos terminarem a avaliação. Na volta, ainda precisarei corrigir os testes e botar as notas no sistema. Os alunos no final do semestre ficam ansiosos, querem resultado rápido. Precisam saber se foram aprovados por média. Depois irei para a cama. Será que vai ter farra?