Combate na serra da garganta em Anitápolis

O coronel da Polícia Militar Valmir Lemos publicou o livro Tombados e esquecidos no qual relata parte dos eventos da Revolução de 1930 que ocorreram no sul do estado de Santa Catarina. Um episódio chama a atenção. Foi o encontro dos revolucionários vindos do Rio Grande do Sul (aliancistas) com o efetivo da então Força Pública do Estado de Santa Catarina (do lado dos legalistas), na antiga estrada Tubarão-Florianópolis, no município de Anitápolis.

De forma resumida, ocorreu o seguinte: imediatamente após o dia do início da rebelião (3 de outubro de 1930), parte das tropas organizadas por Getúlio Vargas adentraram no estado de Santa Catarina, via Passo de Torres, no Rio Mampituba, tomando Araranguá e, pela via férrea, estabelecendo-se em Tubarão sob o comando de Ernesto Lacombe (civil) e do capitão André Trifino Correa (militar).

A posição estratégica de Tubarão foi consolidada, sem nenhuma reação, porém, o avanço para norte, em direção de Florianópolis, não era fácil, já que pelo litoral havia a topografia acidentada do Morro dos Cavalos e o perigo dos bombardeios das embarcações da Marinha de Guerra, também do lado do governo de Washington Luís.
A estrada Tubarão-Florianópolis havia sido aberta alguns anos antes e era a solução mais razoável. Entretanto, havia um estrangulamento perto da cidade de Anitápolis, conhecido como Serra da Garganta, ocupada pelas tropas da Força Pública do então governador de Santa Catarina Fulvio Aducci, que se mantinha fiel ao poder central.

Sob o comando do major Camilo Diogo Duarte, os revoltosos adentraram em Anitápolis em 14 de outubro de 1930, já sabendo que a empreitada não seria fácil, pois o efetivo militar legalista, sob o comando do tenente Romão Mira de Araújo, havia escavado duas trincheiras na estrada. E estavam guarnecidas com um bom ninho de metralhadoras, além de armas mais leves pessoais. Praticamente impossível de fazer uma aproximação sem baixas razoáveis.

Como, nessas ocasiões, existem os contrários e os simpatizantes, chegou ao conhecimento do major Camilo Diogo a existência de uma trilha paralela à rodovia, muito conhecida pelos bugreiros da região. A partir daí, o que se viu é digno de ser comparada com uma ação militar da Segunda Guerra Mundial. O major conduziu parte de seus homens pela trilha enquanto outro pelotão ameaçava, de forma disfarçada, subir a serra, tirando a atenção do pessoal da força pública.

Surpreendidos à sua retaguarda e encarando o outro grupo à sua frente, esse pessoal foi neutralizado após duas horas de cerrado tiroteio. Sete deles foram mortos e enterrados ali mesmo, em cova rasa. Para quem gosta do assunto, a descrição do livro do coronel Valmir é bem detalhada. Um dos civis que acabou preso era nada mais nada menos do que o cidadão Fabio Silva, que dá nome a um dos bairros de Tubarão.

Em São Bonifácio, tem uma homenagem aos mortos, com um monumento na praça chamada “Heróis da serra da garganta”, iniciativa do holandês Padre Sebastião Antonio van Lieshaut, que, sabendo do episódio, ficou impressionado com o esquecimento e houve por bem relembrá-lo quando ali foi pároco.