Bíblias suficientes?

Recentemente, estive em São Paulo, na sede da Sociedade Bíblica Unida do Brasil, reunido com seus responsáveis. Como membro da Comissão Episcopal Pastoral Bíblico-Catequética, representando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fui informado sobre projetos de cooperação que certamente serão assumidos em conjunto daqui para frente.

A Sociedade Bíblica Unida do Brasil faz parte das Sociedades Bíblicas Unidas, uma fraternidade mundial que presta serviços em mais de 200 países. Seu objetivo é colocar ao alcance de cada pessoa a Bíblia completa ou parte dela, no idioma que possa ler e entender e a um preço que possa pagar.
Aproveitando a ocasião da reunião, visitei o Parque Gráfico da Sociedade. Segundo o secretário de comunicação e ação social, o rev. Erni Walter Seibert, diariamente são produzidas ali 20 mil Bíblias. Mas ele também chamava a atenção para alguns contrastes na questão da distribuição da Bíblia em nosso país e no mundo.

No ano de 2008, houve a maior distribuição de Bíblias da história de nossa pátria. Para ser exato, só a Sociedade Bíblica Unida do Brasil distribui 5.685.240 exemplares da Bíblia completa (Antigo e Novo Testamento). Este número não só parece, como é excepcionalmente grande. Significa que, em cada um dos 365 dias do ano, foram distribuídas 15.576 Bíblias.

Se observarmos a estatística dos folhetos, chamados de seleções bíblicas. O número é ainda mais impressionante. Foram 190.698.000 folhetos. Isso significa 522.460 folhetos por dia, ou 21.769 por hora, mil folhetos a cada três minutos. Esses são dados somente da Sociedade Bíblica Unida do Brasil. Devemos ter presente também os números das demais editoras bíblicas existentes no território brasileiro, como as da igreja católica.
Ao analisar estes números, parece que tudo está resolvido em relação à distribuição de Bíblias em nosso país. Mas não é verdade. E aí começam os contrastes.

O conhecimento bíblico no Brasil é ainda muito pequeno. As pessoas não sabem de cor o conteúdo dos Dez Mandamentos. Não sabendo isso, dificilmente irão preocupar-se em obedecer a eles. A maioria das pessoas não conhece histórias bíblicas fundamentais, como a da criação, da vida dos Patriarcas, do êxodo do povo de Israel do Egito, dos profetas e sua mensagem, do nascimento de Jesus e sua pregação, paixão, morte e ressurreição, da vinda do Espírito Santo e ação da igreja dos primeiros tempos, e assim por diante. Isso faz com que valores da vida pessoal, comunitária e social, como a honestidade pessoal e a justiça solidária, o amor a Deus e o respeito ao próximo, o valor da pessoa, da família e da sociedade passem por uma crise enorme.

Outro contraste que se verifica está relacionado ao acesso das pessoas à Bíblia. Enquanto milhões de Bíblias são distribuídas para as pessoas que podem ler, os deficientes visuais têm poucos exemplares disponíveis (poucas bibliotecas têm uma Bíblia em braile). A população surda não tem a Bíblia em libras à sua disposição. Por falta de recursos, as populações das periferias das grandes cidades, o povo interiorano das roças, os ribeirinhos da Amazônia também não têm acesso facilitado à Bíblia.

Se ampliarmos esta visão para o mundo, a situação toma até feições trágicas. Continuando a distribuição de Bíblias a crescer no ritmo atual, nunca atingirá a população mundial, porque a população sem acesso à Bíblia cresce mais rapidamente que em relação àquela que tem acesso.
Portanto, ainda é preciso fazer muito mais para tornar o conteúdo da Bíblia mais conhecido e tornar a Bíblia disponível a todos. Bíblias ainda são insuficientes!