Ao contrário do extermínio de cães, a solução passa pela esterilizaçao em massa e a posse responsável

Não é a primeira vez que o jornalista Antonio Bento pronuncia-se acerca dos cães. Contudo, na edição do último dia 8 do jornal Notisul, com o artigo denominado “Pessoas e animais: relacionamento amigável, porém, ameaçador”, ele superou-se. Eutanásia da forma como ele aborda é repugnante, hediondo.

Sem sombra de dúvida, a questão dos animais abandonados (errantes) é alarmante e evidenciamos a problemática não somente em Tubarão, mas em vários municípios da nossa região. Está se agravando e trata-se de um caso de saúde pública e denuncia o descaso e a irresponsabilidade de muitos cidadãos e governantes. O fato é que muitos ainda não se deram conta, muitos outros simplesmente ignoram e outros, ainda, apontam como sugestão de solução o extermínio em massa desses seres vivos. Aliás, isso já está ocorrendo, embora em menor escala se analisarmos os inúmeros animais que aparecem mortos por aí, envenenados.

O nobre radialista deveria utilizar o seu potencial de comunicador para sensibilizar as pessoas para a posse responsável e não incentivar o extermínio como solução e considerar o “relacionamento amigável, porém, ameaçador” do homem com os cães. Embora devamos respeitar a opinião de cada um, não quer dizer que devemos concordar. A opinião de extermínio em massa é lamentável e totalmente descontextualizada da realidade.

Segundo estudos, uma só cadela pode originar, direta ou indiretamente, 67 mil cães num período de seis anos. Se quisermos realmente controlar a situação da superpopulação devemos, sim, esterilizar em massa e não exterminar como sugere o radialista Antonio Bento.
Ainda, segundo o Sr. Bento, “[…] nenhum desfecho razoável acontece” nas iniciativas promovidas entre governos municipais e ONGs. Questiona-se: que ações seriam razoáveis para um cidadão que pensa que eutanasiar no atacado os animais abandonados, como sugere o radialista, seja a solução?

Felizmente, há um grupo de pessoas que, de forma organizada, busca amenizar o problema e luta para achar uma solução para esta problemática. Também há um grande número de anônimos, pessoas de bem, que abrigam em suas casas animais abandonados, tratam deles, castram e procuram um lar definitivo. Isso é louvável, digno das pessoas que entendem e buscam a integração e respeitam todas as formas de vida. Embora não seja razoável, ameniza. É um ato nobre e tenho certeza de que se trata de uma relação amigável e gratificante para essas pessoas, além de ajudar em muito os animais.

Essas pessoas que respeitam e acolhem os animais reconhecem o que pensava São Francisco de Assis ao dizer que “todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem… Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida”. Acreditam ainda que “os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento”, em concordância com o cientista Charles Darwin.

Por outro lado, é fato, precisamos de muito mais ação, pois o problema merece maior atenção e agilidade no seu trato. Precisamos, sim, de um CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) que contenha um abrigo para esses animais. Lutamos muito por isso, pois temos esperança de ver materializado, perfeitamente estruturado (físico e operacionalmente) e em funcionamento devidamente planejado.

Nós, voluntários e membros da ONG Movimenta-Cão, assim como muitos cidadãos anônimos, procuramos fazer a nossa parte assistindo três cuidadoras que abrigam atualmente aproximadamente 300 cães. Nossa ajuda se concretiza em parte por intermédio de um convênio firmado com o Município de Tubarão e complementado pelo voluntariado de vários abnegados que entendem haver solução para a situação, basta o envolvimento de todos. Por exemplo, nas quatro feiras de adoção promovidas pela ONG foram doados 120 cães e quatro gatos.

Até o momento, castramos 100 cães, entre machos e fêmeas, entregamos aproximadamente 15 mil quilos de ração, além do fornecimento de medicamentos básicos para os cães. Por fim, o radialista tenta comparar a problemática (que de fato existe) da necessidade de se construir um canil e implantar um Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), objetivando uma solução definitiva, com outra problemática por ele apontada de que alguns bairros não possuem unidade básica de saúde. Cita ainda a precariedade no atendimento nas unidades de saúde existentes, além da falta frequente de medicamentos. Justifica que isso causará um “desconforto para qualquer gestor público”.

Mais uma vez, respeitosamente, não concordamos com o radialista, pois ambos os problemas devem ser encarados de frente, tendo em vista que um não exclui o outro, e quem deve confortar o povo é o gestor público, já que foi eleito para isso. O povo deve sim contribuir, colaborar, exercendo de fato a sua cidadania. Neste contexto, vamos lembrar da famosa frase de Mahatma Gandhi: “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados”.