A maior tragédia do jornalismo brasileiro

A cobertura de um grande fato é uma árdua tarefa e precisa ser feita por profissionais da área da comunicação, se possível formados no ensino superior. A queda do avião que transportava a equipe da Chapecoense, o Verdão do Oeste, na noite desta segunda-feira (horário colombiano), ou madrugada de ontem (hora de Brasília), foi uma dessas pautas titãs. Pauta é o assunto que o repórter está designado a trabalhar e poder mediar tal conteúdo ao público. O fato foi de arrepiar, deixou milhões de brasileiros em um estranho estado de choque no amanhecer desta terça. A notícia fez nascer sentimento no mais duro dos corações. A primeira partida da final da Copa Sul-Americana, entre a queridinha e sensação do Brasil neste ano, a Chape, e o atual campeão da Libertadores, Atlético Nacional, de Medellín, que seria disputada hoje à noite. Foram 75 pessoas mortas, 22 jornalistas de gabarito, meus colegas de profissão, que estavam neste voo para escrever, descrever, filmar, fotografar, gravar, narrar, florescer emoção, repassar todos os detalhes de um embate que entraria para a história do futebol de Santa Catarina, pois nunca um time do Estado que tem verde em seu apelido (barriga-verde) havia chegado tão longe na modalidade em nosso continente. Além de ter sido a maior perda esportiva do país multicampeão do futebol, também foi a maior envolvendo o jornalismo.

Centenas de profissionais de imprensa morrem todos os anos ao redor do mundo, mas durante a pauta, raramente a caminho dela. No Brasil há registros de óbitos de jornalistas em confrontos entre facções criminosas no Rio de Janeiro e em São Paulo, nos tiroteios entre pistoleiros e sem-tetos na região Norte e Nordeste, principalmente, de assassinatos a mando de políticos devido a coberturas que incomodaram um ou outro que se achava poderoso ou ‘lavava jato’, no meio da pauta de uma cobertura de um acidente, como em 2007 na cidade catarinense de Rio das Antas, quando um caminhão desgovernado desceu a serra em alta velocidade e resultou na morte de bombeiros, policiais, curiosos e… jornalistas. Enfim, estamos sempre na linha de frente, é preciso alguém lá, a máquina nunca irá substituir o repórter, é preciso o fator humano, o bom profissional da área, que traz em áurea sua sensatez, sua agilidade e facilidade em lidar com as palavras, as quais precisam ser entendidas por todos, do analfabeto ao PHD. Não tenho medo de morrer em pauta ou ao caminho dela, pois o jornalismo já está tatuado em meu sangue, ele completa o meu sobrenome, minha maior riqueza de trabalho é a minha credibilidade, a certeza que informei, cumpri o meu dever de maneira ética, sem receio às reações unicamente pela certeza de ter fornecido somente a verdade.

O esporte já me fez lacrimejar por diversas vezes, jornalistas esportivos já me fizeram chorar pela pureza e amor pelo que fazem, por impor eco em sua narração, suavizar uma frase de um menino que conseguiu chutar a bola pela primeira vez com a ajuda do pai que criou uma prótese, a qual o possibilitou de tocar a rede pela primeira vez, pela onda que pode ser sentida pela criança que pôde surfar graças a projetos como o do Corpo de Bombeiros, pelas vidas que são salvas, pelos cracks que deixam de ser fumados, pelo som da torcida. Obrigado por serem jornalistas e nos arrancarem lágrimas de felicidade nesta trajetória em terra, Victorino Chermont, Rodrigo Santana Gonçalves, Devair Paschoalon, Lilacio Pereira Jr., Paulo Clement, Mário Sérgio, Guilherme Marques, Ari de Araújo Jr., Guilherme Laars, Giovane Klein Victória, Bruno Mauri da Silva, Djalma Araújo Neto, André Podiacki, Laion Espíndola, Rafael Valmorbida, Renan Agnolin, Fernando Schardong, Edson Ebeliny, Gelson Galiotto, Douglas Dorneles, Jacir Biavatti e Ivan Agnoletto.