A Itália do cai não cai

“Duas pessoas, em inglês, formam um grupo. Duas pessoas, em francês, formam uma equipe… Em italiano, duas pessoas formam três partidos”. A piada revelaria o way of life italiano, que seria caracterizado pela polêmica. A diversidade caracteriza a vida na bota europeia que mergulha no mar mediterrâneo. Esquerda e direita; norte e sul; terroni e polentoni; católicos e leigos; fascistas e comunistas. A variedade de opções na escolha do café, num bar, também é reveladora da diversidade que caracteriza a Itália, feita de mar e montanha, Bel Paese.

Tenho múltiplas ligações com a Itália. Minha mãe, sobrenome Reggio, neta de italiano; minha mãe espiritual, Chiara Lubich, é natural de Trento. Garibaldi viveu também em Piratini, capital da Revolução Farroupilha, cidade onde eu nasci. Na Sardenha, ilha italiana – ao norte, Caprera, arquipélago da Madalena -, Garibaldi construiu sua casa, onde viveu até morrer… Uma casa estilo fazenda gaúcha, outro ponto em comum com o italiano-gaúcho Garibaldi.
Minha esposa é natural de Roma. Na Toscana, eu vivi por um ano; em Roma, vivi sete anos, estudando. A culinária italiana, em minha opinião, é a melhor, pelo conteúdo da comida e pelo estilo de comer: na Itália, come-se festejando, celebrando sempre a beleza do sabor do que se come… Itália, Itália, Itália bela, mas em um momento de profundo sofrimento…

A Itália está dividida entre os que amam Berlusconi e os que o odeiam… Berlusconi cai não cai… Berlusconi entrou em política com ares de messianismo. Apresentou-se como se fosse um empresário messias. “Entrou em campo”, usando sua expressão, para salvar a Itália, disse ele, do poder dos “comunistas”.
Na verdade, quem sustenta moral e politicamente a Itália dividida de hoje, do ponto de vista institucional, não é o primeiro-ministro empresário-messias Berlusconi, mas o chefe de estado da Itália, Giorgio Napolitano (foto), figura de destaque do então Partido Comunista Italiano, hoje Partido Democrático.

Napolitano tem forte sentido de Estado. Homem responsável. Homem simples. Conversei pessoalmente com ele por ocasião de um evento sobre socialismo e democracia, em Roma. Perguntou-me sobre o Brasil, fizemos uma foto juntos. Disse-me que admirava muito Paulo Freire, o nosso famoso pedagogo.
Berlusconi “entrou em política” prometendo salvar a Itália. O messias Berlusconi convenceu até quem já deveria ter um messias, ou seja, parte significativa dos católicos italianos. Porém, quem de fato está garantindo que a Itália não perca o capital de civilidade política conquistado a duras penas ao longo de décadas é o senhor Giorgio Napolitano, comunista de tradição, italiano com forte sentido de estado que se criou no mesmo berço político do sempre grande Antonio Gramsci.