A inadimplência como desculpa

Final de ano. Tempo de despesas já programadas com compras de Natal e Ano-Novo, normalmente pagas com as parcelas do 13° salário. O benefício nessa época também é utilizado para quitar e renegociar dívidas. A inadimplência dos brasileiros oscila no mesmo nível de outros países, inclusive considerados desenvolvidos. Mas a diferença para quem deve e quer pagar é o juro cobrado pelo sistema financeiro nacional.

Além de operar com capitalização de juros, os bancos operam com spread médio de 26,6 pontos percentuais. O spread – diferença entre custo de captação dos bancos e taxa cobrada ao consumidor – aqui no Brasil é três vezes superior à nossa vizinha Argentina. É também superior a muitos outros spreads mundiais – supera o de 42 países, segundo amostra analisada pelo FMI. Mas o que determina sua elevação?
Com tal recurso, as instituições bancárias pagam custos, possível inadimplência, impostos. Aliás, a inadimplência é utilizada como principal motivo pelo elevado spread no país. No entanto, se considerarmos que o índice de inadimplência nacional está na média mundial, é necessário outro fator para explicar a taxa abusiva. Na Argentina, por exemplo, a inadimplência é de 2,3% contra nossos 2,9%. Mas lá o spread é três vezes menor.

O alto percentual reflete diretamente no dia-a-dia dos consumidores, já que impede a inclusão de brasileiros no mercado de consumo por causa do difícil acesso ao crédito. Sem crédito, há inibição de consumo. Também de investimento, já que empresas de médio e pequeno porte enfrentam altos custos para financiar capital de giro e fixo. E lá se vai o ideal de crescimento proposto pelo governo. E fica a dúvida: o spread elevado gera mais inadimplência ou a inadimplência resulta em elevação de spread?

Essa e outras dúvidas são difíceis de responder. Assim, resta analisar alguns aspectos que poderiam diminuir o índice brasileiro. Incentivar a competição entre as instituições financeiras é um deles. Um dos problemas da dinâmica econômica brasileira é também a acomodação dos bancos, que lucram em outras frentes, não se importando o aumento do crédito.