A humanidade morreu de sede – O blá, blá, blá sobre o Rio Tubarão

“Não aguento mais o blá, blá, blá sobre o Rio Tubarão”, dizia-me um amigo. Ninguém aguenta mais tal blá, blá, blá. Projetam-se projetos; planejam-se planos, mas o rio continua na podridão fedentina na qual as últimas gerações o lançaram. Um projeto é válido somente quando chega à execução do que foi planejado.

O pagamento de planos e projetos deveria ficar subordinado à execução. Fala-se em conscientização, em prevenção, em trabalhos de conscientização nas escolas, mas isso pode até ser fuga do problema. Claro que precisamos de trabalhos de conscientização, mas o que mais precisamos é de ações do poder público de despoluição e de punição de quem polui.

Ainda não entendemos que podemos morrer de sede no futuro. Não são somente as bombas atômicas e nucleares que nos ameaçam: a humanidade morrerá de sede se medidas de despoluição e de prevenção não forem tomadas. E não adianta pensar somente na falta de água na África: a cidade de Tubarão morrerá de sede se não trocarmos o blá, blá, blá dos projetos sem execução prática por ações concretas, efetivas, urgentes, imediatas!

Pesquisas devem gerar resultados práticos, e não somente papel e siglas (siglas e mais siglas). Diagnósticos e pesquisas de percepção revelam o que todos já sabem: o Rio Tubarão está mal. Não é nenhuma novidade. Impressionante o caráter metafísico das pesquisas sobre o Rio Tubarão. O Rio Tubarão parece que virou assunto filosófico: metafísica das águas. A filosofia é ótima, mas o rio precisa de ações. Quando é que as pesquisas sobre o Rio Tubarão vão chegar efetivamente ao próprio Rio Tubarão em forma de ações concretas?

Não pensem que eu esteja desprestigiando o trabalho de pesquisadores sobre o tema. Não estou. Estou do lado deles. Constata-se o desprestígio em que se encontra o (não) trabalho do poder público. Institutos de pesquisa têm poder de pesquisa. É o poder público que tem poder de execução. Por isso, penso que os pesquisadores que já cansaram de tanta omissão do poder público deveriam mais é criar grupos de pressão política para obrigar o poder público a cair da cama do sono da omissão em relação à execução de ações concretas no rio.

A população gosta de ver obras. Máquinas e trabalhadores abrindo ruas, nas ruas! Mas ninguém vê nada além de pesquisadores solitários com canequinhas coletando água em alguns lugares do rio. Falta ação! Sobram omissão e siglas! Enquanto isso, o rio agoniza rapidamente.

Médicos descrevem (diagnóstico), prescrevem e tratam. Em relação ao rio, há descrição e prescrição de tratamentos, mas falta o tratamento. O paciente está cansado de esperar na sala de cirurgia. Todos olham para o rio, mas ninguém incide o bisturi no coitado. Enquanto isso, ele agoniza rapidamente em direção à morte certa. Se não houver ações, ele vai morrer, e logo, e Tubarão, que já morreu de enchente (199 em 1974), agora vai morrer de sede, ou vai ter que comprar água mineral até para continuar praticando a odiosa atividade de lavação de calçadas.

O Rio Tubarão lembra o assaltado que foi ajudado pelo bom samaritano. Todo mundo passava, e ninguém ajudava a vítima do assalto. Porém, na nossa história, o bom samaritano (que amou com ações, concretas, e não com planos de ação) ainda não entrou efetivamente em cena.
A água do nosso Rio Tubarão é até objeto de disputas políticas ferozes: Casan x Águas de Tubarão, mas ainda não virou objeto de ações práticas incisivas.

Se continuar assim, em breve a Casan e o Águas de Tubarão vão ficar parecidos com aquelas funerárias do faroeste: vão disputar o morto! Mas então, ninguém mais vai querer saber do morto, e a disputa vai ser entre empreiteiras, para ver quem pagará menos para tapar com concreto o Esgotão de Tubarão.