A greve

O mecanismo da greve constitui-se último recurso de negociação coletiva quando o poder público esquiva-se de apresentar uma proposta coerente aos pleitos dos servidores. Assim, a greve do magistério estadual de Santa Catarina, adiada desde 2008, torna-se inevitável e apresenta-se como movimento coerente, justo e pedagógico. O governo insiste nas teses da remuneração como vencimento e no aguardo do acórdão do STF como forma de ganhar tempo para implementar a aplicação da decisão da corte suprema. Mostra completo desrespeito com a categoria.

A coerência da greve está exatamente na paciência demonstrada até agora pelos trabalhadores da educação ao esperarem por três anos a decisão da justiça sobre a implantação do piso. Em diversos momentos, o sindicato convocou a greve. No entanto, as vozes moderadas da legalidade insistiram na necessidade de esperar por uma decisão final do judiciário. Havia o entendimento de que, a partir da decisão, o governo não teria argumentos para continuar descumprindo a lei. Mas, a despeito da determinação judicial, Raimundo Colombo e seus assessores continuam na mesma toada de afirmar que já pagam o piso e que a receita não suportaria um aumento linear. Cômico se não fosse trágico!

A greve é justa, pois o senador Luiz Henrique, então governador do estado, num gesto de pura esperteza política e jurídica, recorreu ao supremo para se livrar do ônus financeiro da medida. Todos tinham clareza sobre os aspectos legais da matéria e que o recurso era meramente protelatório. Sem reajustes significativos nos últimos anos, os servidores da educação amargam salários vergonhosos, comprometidos por inúmeros empréstimos, numa política de abonos, a qual desrespeita o plano de cargos e salários e desestimula a carreira educacional. Não é sem razão que os cursos de licenciatura estão sendo fechados em quase todas as instituições de ensino superior. Faltam professores de quase todas as disciplinas. As escolas estão repletas de professores sem formação e muitas vezes despreparados para o exercício da docência.

Pedagogicamente, a greve pretende mostrar que os profissionais da educação também são pessoas e, portanto, conforme o slogan do atual governo, deveriam estar em primeiro lugar. Estabelecer com a sociedade um diálogo apartidário e democrático sobre a necessidade de se fazer cumprir as determinações legais. Demonstrar aos pais e responsáveis de nossos alunos a impossibilidade de continuarmos a vivenciar as humilhações, inseguranças e desvalorizações. Esse quadro gera falta de compromisso e prejudica o bom andamento das atividades escolares. Por fim, despertar nos professores a união, fundamental instrumento para resgatar nossa profissão do abismo em que ela se encontra.